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Carta Asiática
PRODECER:
Projetos no cerrado e dívidas agrícolas.
Neide
Mayumi Osada
Durante o início da década de 70, a convite
da Organização das Cooperativas de São
Paulo, um grupo do ZENCOREN (Federação Nacional
das Cooperativas de Compras do Japão) visitou o Brasil
com o objetivo de estudar a viabilidade de se desenvolver
a agricultura no Brasil.
A necessidade de promover a agricultura em terras tão
distantes foi incentivada, principalmente, por uma medida
adotada em 1973 pelo então presidente dos Estados Unidos,
Richard Nixon, que decretou o embargo provisório das
exportações de grãos e farelos (a medida
visava a garantia do abastecimento interno). Para o Japão,
a medida foi extremamente prejudicial já que o país
dependia exclusivamente das exportações americanas.
Para sanar parte do problema de abastecimento japonês,
iniciaram-se as discussões de programas de parceria
agrícola entre o Brasil e o Japão.
O PRODECER (Programa de Cooperação Nipo - Brasileiro
para o Desenvolvimento dos Cerrados) foi idealizado em 1974.
Os anos de 1974 a 1977 foram de entendimentos , acordos e
amadurecimento do projeto, para então em 1978 dar início
concreto às atividades no cerrado, local que até
então era considerado impróprio para a agricultura.
Financiamento - Os recursos japoneses vieram de fontes institucionais
do governo e dos bancos privados, liderado pelo Long Term
Credit Bank, que são os co-financiadores. Os projetos-piloto
foram financiados pela Japan International Cooperation Agency
(JICA) e o projeto de expansão pelo Overseas Economic
Cooperation Found (OECF).
PRODECER I - Estabelecido a partir de 1979 nos municípios
de Iraí de Minas, Coromandel, Paracatu e Paracatu-Entre
Ribeiros, no Estado de Minas Gerais. Foram incorporados 70
mil hectares do cerrado para o desenvolvimento de tecnologia
para a produção de grãos, principalmente
milho, soja e trigo. O valor do investimento foi de US$ 50
milhões.
PRODECER II - o projeto foi iniciado em 1985, abrangeu
uma área maior que o primeiro projeto, foram 200 mil
hectares de cerrado nos Estados de Minas Gerais, Goiás,
Bahia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Os investimentos
japoneses foram de US$ 350 milhões.
Por problemas financeiros, uma auditoria coordenada pelo secretário
executivo do Ministério da Agricultura, Celso Matsuda,
está sendo realizada agora para verificar as contas
do PRODECER. E ao que tudo indica, a dívida bancária
dos produtores agrícolas brasileiros do PRODECER II
está estimada em cerca de R$ 400 milhões (cf.
Gazeta Mercantil, 1999).
A dívida do PRODECER II foi resultado, principalmente,
do desrespeito a uma das principais cláusulas do contrato,
que foi a de não cobrar juros internos superiores às
taxas fixadas pelo Japão para o repasse dos recursos.
O Banco Central obteve condições especiais para
o pagamento da dívida, juros de cerca de 3,1%, carência
de sete anos e prazo de 25 anos. No entanto, os produtores
agrícolas participantes do PRODECER foram financiados
segundo a norma vigente na época da contratação
dos empréstimos. Caso a taxa de juros seja reduzida
a um valor igual ou menor às taxas vigentes no País,
o saldo devedor poderá ser reduzido entre 30% e 40%.
Somado ao problema dos juros cobrado pelos bancos, de acordo
com Marcelo Melo, assessor do PRODECER, outros fatores contribuíram
para o crescimento da dívida: os sucessivos planos
de ajuste econômico desde o início do desenvolvimento
do projeto em 1985 e, além disso, os produtos agrícolas
foram tabelados pelo governo, o que não aconteceu com
os insumos agrícolas.
Além da equipe do Ministério da Agricultura,
uma empresa japonesa também está analisando
as contas do PRODECER, a Pacific Consult. Para que o PRODECER
IV seja viabilizado, o governo brasileiro precisa resolver
a questão do endividamento, já que a liberalização
do empréstimo para a quarta fase está condicionada
ao problema da dívida.
PRODECER III - Em fase de implantação
do projeto, o programa cobre uma área que corresponde
a 80 mil hectares nos estados do Maranhão e Tocantins.
O investimento para a fase inicial foi de US$ 138 milhões.
Os últimos acertos para o plano de expansão
do projeto, atingindo os Estados do Piauí, Pará
e Rondônia foram concluídas no final do mês
de abril de 1997 pelo Ministério da Agricultura. Para
o PRODECER III foram destinados US$ 850 milhões, 60%
do custeio do programa virão do governo japonês
e o restante será de responsabilidade do governo brasileiro.
PRODECER IV - O projeto depende de uma pré-condição
imposta pelo governo japonês (solução
da dívida do PRODECER II), para que só então
sejam liberados cerca de US$ 510 milhões para o início
do desenvolvimento da quarta fase.
Apesar do endividamento dos agricultores, o PRODECER em parceria
com a EMBRAPA possibilitou que novas técnicas agrícolas
pudessem aproveitar o cerrado para a agricultura. Também
gerou cerca de 20 mil empregos diretos e 40 mil empregos indiretos.
Contribuiu para o aumento da produção anual
de grãos, que registrou nos últimos anos um
volume de aproximadamente 620 mil toneladas.
A preocupação com a questão do abastecimento
alimentar em vários países asiáticos
tem sido uma das questões cruciais nesse projeto. Vários
fatores indicam problemas no abastecimento mundial: aumento
da população; presença da China agora
como importadora de alimentos dada a sua escassez de terras
em condições de aproveitamento imediato. Nos
últimos anos vários países asiáticos
mostraram interesse em aproveitar o potencial agrícola
brasileiro. Empresários da Coréia do Sul vieram
ao Brasil interessados em estabelecer parcerias para a produção
de grãos no Brasil. Recentemente, o governo chinês
manifestou interesse em adquirir 500 mil hectares em terras
brasileiras. E empresas da Malásia têm adquirido
áreas para exploração florestal (YOKOTA,
1997:160).
Fontes
DINIZ,
Maurício Sampaio. "Dívidas do Prodecer
somam R$ 400 milhões". Gazeta Mercantil, 15 de
julho de 1999.
Gazeta Mercantil, edições de 1997
PRODECER - Programa Nipo - Brasileiro de Desenvolvimento do
Cerrado, in : HYPERLINK http://www.ada.com.br/campo/
http://www.ada.com.br/campo/
YOKOTA, Paulo. "Fragmentos sobre as Relações
Nipo-Brasileiras no Pós-guerra". Rio de Janeiro:
Topbooks; São Paulo: Bolsa de Mercadorias & Futuro,
1997.
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