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Publicación
Carta Asiática
Relações Brasil-Japão:
Aproximações e Distanciamentos.
Autor:
Alejandro
Ratsuo Uehara
1.
Introdução
O Japão é um país que vem passando por
um processo de internacionalização desde 1853,
quando foi obrigado a se abrir para o comércio internacional,
cedendo às ameaças de ataque da frota militar
dos EUA, comandadas pelo Comodoro Perry. Essa abertura quebrou
um longo período de isolamento internacional do Japão,
no qual o seu relacionamento com o mundo ocidental era mínimo,
restrito às trocas comerciais com a Holanda pelo porto
de Dejima, em Nagasaki.
Pouco tempo depois à abertura ocorreu a Restauração
Meiji em 1867, a qual proporcionou condições
para grandes transformações internas e às
relações externas do Japão. Com o objetivo
de alcançar maior desenvolvimento econômico,
social e tecnológico, os interesses japoneses projetaram-se
para além dos limites da Ásia. A extensão
desses interesses trouxe ao território brasileiro um
comissário do Ministério das Relações
Exteriores do Japão, Sho Nemoto, que visitou alguns
Estados do país - Bahia, Minas Gerais, Pernambuco,
São Paulo, em 1893 (NAKASUMI & YAMASHIRO, 1992).
As boas impressões do comissário favoreceram
a aproximação entre os dois países, conduzindo
à formalização do início das relações
Brasil-Japão com a assinatura do Tratado de Amizade,
Comércio e Navegação entre os dois países,
no dia 5 de outubro de 1895, em Paris.
Desde então, as relações nipo-brasileiras,
ao mesmo tempo que sofrem momentos de aproximação
de distanciamento, vêem adquirindo diversificação
e complexidade, podendo ser divididas em quatro períodos:
a. o primeiro, da assinatura do Tratado de Amizade até
a Segunda Guerra Mundial;
b. o segundo, compreendendo os anos 1950-80;
c. o terceiro, desenvolvido durante a década de 1980,
e;
d. o quarto, cobrindo os anos 1990.
Este texto objetiva apresentar as características que
marcaram essas fases da história das relações
nipo-brasileiras,
avaliando também alguns dos seus principais aspectos
envolvendo comércio, investimentos, ajuda externa e
política
2. Fases do Relacionamento
É comum identificar-se o início da imigração
japonesa ao Brasil com a chegada do famoso navio Kasato Maru
em 1908, trazendo a bordo 781 pessoas. Os primeiros emigrantes
chegaram, entretanto, pouco antes, em 1906, no mesmo ano
da chegada da primeira empresa japonesa ao país.
Atualmente, a colônia japonesa - imigrantes e descendentes
- no Brasil é de cerca de 1,3 milhão de pessoas,
e faz parte da história do País. O primeiro
grande grupo de imigrantes que desembarcaram no porto de Santos
(São Paulo), em 1908, foi para as plantações
de café no interior paulista. Nesse período,
as suas atividades estiveram relacionadas de modo direto ou
indireto ao setor agrícola, contribuindo para a expansão,
diversificação e melhoria do cultivo de diversos
produtos.
Durante a Segunda Guerra Mundial, apesar de não ter
havido um conflito direto entre o Brasil e o Japão,
as relações diplomáticas entre os dois
países foram interrompidas. A retomada só vai
ocorrer em 1952, com a entrada em vigor do Tratado de São
Francisco, restabelecendo a soberania ao Japão. Essa
retomada das relações marca o início
da segunda fase, na qual
o fator econômico, estimulado pelo crescimento da economia
japonesa, adquire maior importância. O crescimento econômico
japonês impulsionou realização de investimentos
diretos no exterior pelas empresas nipônicas.
Na segunda fase, um fator que contribuiu para o aumento dos
empreendimentos japoneses no Brasil, durante a década
de 1950, foi o Plano de Metas de Juscelino Kubitschek, pois
proporcionou um clima de crescimento econômico no país
estimulando fluxos de capitais japoneses para o Brasil.
Nas décadas de 1960 e 1970, com o afrouxamento da bipolaridade,
causado, entre outros fatores, por um equilíbrio nuclear
estratégico americano-soviético, o Japão
passou a buscar parceiros alternativos. Ao final da década
de 1970, o relacionamento Brasil-Japão vivia um processo
de intensificação e aprofundamento impulsionada
pelo boom da economia japonesa, que emergia como novo pólo
capitalista ao lado da, então, Alemanha Ocidental.
Com isso, no período "de 1951 até 1980,
o Brasil foi um dos maiores recebedores de investimentos diretos
do Japão, superado somente pelos EUA e pela Indonésia."
(SECRETARIA DE IMPRENSA DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA,
1991:41)
No entanto, com a década de 1980 veio a frustração
das expectativas criadas durante os anos anteriores. O fenômeno
da dívida externa, os problemas internos causados pelas
altas taxas de inflação somados a instabilidade
econômica, esfriaram o relacionamento entre os dois
países. Além disso, os interesses das empresas
japonesas passaram por mudanças, deslocando a prioridade
para a defesa de mercado para os seus produtos. A atenção
japonesa voltou-se para os países desenvolvidos - principais
mercados às exportações japonesas - que
ameaçavam impor medidas protecionistas contra importações.
Por causa dessa nova preocupação os países
supridores de matérias-primas e recursos naturais,
como o Brasil, passaram para um segundo plano.
Naquele momento, o Japão e os países desenvolvidos,
de um modo geral, não tinham a preocupação
de incluir os países em desenvolvimento no círculo
do comércio internacional, pois acreditavam que o desempenho
desses países teria pouca influência sobre as
suas próprias economias. Portanto, uma redução
das relações econômicas dos países
desenvolvidos com os em desenvolvimento, ainda que levassem
a um aprofundamento das dificuldades nos países pobres,
não era algo que os preocupassem.
Atualmente, com o crescimento da interdependência mundial
as economias dos países em desenvolvimento têm
recebido maior atenção, trazendo perspectivas
de novas oportunidades ao Brasil. Além disso, outro
elemento a ser considerado, apesar das dificuldades econômicas
no Japão, esse país é ainda a segunda
maior economia nacional global, e o Brasil é um dos
"big emerging markets" de maior destaque na atualidade.
Segundo os resultados de uma pesquisa de opinião(1)
com executivos de 1.000 empresas com atuação
global, publicados em dezembro de 1998 pela Consultoria A.T.
Kearney, o Brasil aparece em segundo lugar na classificação
mundial de "Índices de Confiança"
para novos investimentos, abaixo apenas dos Estados Unidos.
O status de "big emerging markets" acompanhado de
uma maior estabilidade política e monetária
brasileira (2), caracterizam o quarto período do relacionamento
Brasil-Japão, no qual surgem novas expectativas de
aprofundamento das relações.
A dinamização comercial experimentada na década
de 1990 no Mercosul contribui para formação
de expectativas positivas ao relacionamento nipo-brasilieiro.
Esse processo de integração, no qual o Brasil
é o principal membro, aponta que em sete anos o volume
de fluxo de comércio intra-regional praticamente quadruplicou,
passando de US$ 10,42 bilhões para US$ 39,84 bilhões
(Gráfico 1).
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Notas
(1)
"Corporations Growing More Cautious About Investing In
Foreign Countries, A.T. Kearney Index Shows".
In: http://www.atkearney.com/art.jhtml?odif=gbpc&tfarc=547
(2) Deve-se salientar aqui que apesar das ameaças de
depreciação que vem sofrendo a moeda brasileira,
por vezes refletindo tensões e problemas externos,
o Real tem apresentado maior estabilidade monetária,
incluindo-se nesse item a boa capacidade de recuperação
apresentada após a desvalorização do
real no início de 1999. Não se afirma aqui que
todas as questões estejam resolvidas em termos de política
econômicas. No entanto, o quadro que se apresenta de
baixa inflação e políticas cambiais minimamente
previsíveis fazem do país uma opção,
um parceiro econômico mais atrativo que na década
passada.
(3)Dados do Trade Statistics Yearbook, IMF, Anuário
Estatístico da CEPAL e CEI. In: Contribuciones 4/1996
3. As Relações Comerciais
Nipo-Brasileiras
O relacionamento comercial tem sido até o presente
momento, um dos aspectos pouco desenvolvidos na relação
nipo-brasileira. O Japão tem tido intensas relações
com os países da Ásia-Pacífico, podendo-se
inclusive afirmar que, em termos comerciais, os países
em desenvolvimento da região já disputam importância
com países desenvolvidos - Estados Unidos e Europa.
Segundo Marcelo de Paiva Abreu e Wiston Fristch (1996), "em
termos comerciais, embora os mercados da OCDE, especialmente
os EUA, ainda sejam importantes para esses países (asiáticos),
os nove (NIC's e Asean) absorvem hoje cerca
de uma terça parte das vendas externas japonesas e
vendem eles para o Japão quase metade de suas exportações"
(ABREU, 1996:59)
As trocas nipo-brasileiras pouco têm-se alterado qualitativamente
ao longo do tempo, mantendo uma modesta participação
no volume global de comércio desenvolvido pelo Japão.
Até os anos 1980, segundo ALTEMANI DE OLIVEIRA (1991),
a relação
foi marcada pela complementaridade entre as duas economias,
tendo de um lado, o Japão como país importador
de matérias-primas e exportador de manufaturados, e
de outro, o Brasil como exportador de matérias-primas.
Apesar disso, do final da década de 1960 até
início da de 1980, houve uma expansão das exportações
de manufaturados brasileiros
ao Japão, acompanhando a política de estímulo
às exportações promovida pelo governo
brasileiro durante esse período.
Durante nos anos 1970 houve uma
redução das exportações brasileiras
de matérias-primas para o Japão, motivadas dentre
outros fatores pela crise do petróleo, pois com a elevação
do preço desse produto o Japão transferiu suas
indústrias com maior dependência em recursos
naturais para o exterior, buscando diminuir sua vulnerabilidade
econômica. Mesmo assim, o Brasil permanece como um importante
parceiro, sendo atualmente o segundo maior fornecedor de minério
de ferro ao Japão, atrás apenas da Austrália.
O crescimento das exportações de produtos manufaturados
teve seu ápice em 1986, quando chegou a representar
cerca de 32% do total das exportações do Brasil
para o Japão. A partir desse ano, porém, há
uma diminuição da participação
dos produtos manufaturados (Tabela 2) e uma diversificação
nos tipos de produtos direcionados ao mercado japonês.
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No sentido contrário das trocas
comerciais, durante a primeira metade da década de
1980, o volume de exportações japonesas para
o Brasil sofreu uma redução, voltando a crescer
na segunda metade, mas só retorna aos valores de 1980
praticamente dez anos depois. Em termos percentuais houve
uma forte redução da participação
brasileira no total das exportações japonesas,
no mesmo período, caiu de 0,9% (1980) para 0,4% (1985).
A participação brasileira como mercado aos produtos
japoneses, já modesta em 1980, ficou reduzida a praticamente
um terços depois da segunda metade da década
de 1980 (Tabela 3).
Comparando-se os resultados das importações
feitas pelo Japão de produtos brasileiros de 1985 a
1995, verifica-se que a participação do país
permanece praticamente inalterada com uma média de
1,4% em relação ao total das importações
japonesas. Estes dados mostram que o Brasil não conseguiu
se beneficiar do crescimento do volume do comércio
japonês com o mundo. Mais do que isso, depois da explosão
da bolha econômica japonesa de 1991, com o exceção
de 1992, em que houve um aumento das exportações
brasileiras ao Japão, o Brasil tem seguido uma tendência
de perda de participação no mercado japonês.
A partir de 1995, a redução passa a ocorrer
tanto em valores absolutos como percentuais (Tabela 3), acentuando-se
nos anos de 1997 e 1998. Esses números da balança
comercial nipo-brasileira refletem as dificuldades da economia
domésticas japonesa e nos dois últimos anos,
provavelmente, as conseqüências da crise econômica
sofridas pelas nações asiáticas.
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Os números da balança comercial
nipo-brasileira de 1996, 1997 e 1998 apontam um aumento das
importações e uma diminuição da
exportações brasileiras no comércio com
o Japão. O total das importações brasileiras
provenientes do Japão em 1997 anos foi de US$ 3,6 bilhões,
com um resultado 63,6% superior de 1996 (US$ 2,2 bilhões),
e em 1998 as importações atingiram US$ 3,2 bilhões,
uma redução de aproximadamente 10% em relação
a 1997.
No sentido inverso, em 1997, o Brasil exportou ao mercado
japonês US$ 3,1 bilhões, cerca de 18,5%(4) inferior
ao ano anterior (US$ 3,8 bilhões), e em 1998 US$ 2,2
bilhões, redução próxima de 29,1%.
Com esses resultados a participação brasileira
nas importações totais do Japão caíram
para 0,8%, bem abaixo da média do período 1985-1995,
que era de 1,4%. Além disso, outro fato que merece
destaque é a inversão do superávit(5),
esses resultados marcaram pela segunda vez consecutiva a inversão
dos superávits na relação comerciais
bilaterais, ficando o Japão com um superávit
de US$ 1 bilhão em 1998.
Estes dados mostram que crescimento absoluto do volume do
comércio japonês com o mundo, não conduziu
diretamente a uma elevação da participação
brasileira no mercado japonês, mas a queda do nível
de importações em 1997 e 1998 (6) foi sentida
diretamente, demonstrada por dois anos de reduções,
tanto em termos de valores absolutos como proporcionais.
Um dos fatores que podem explicar essa retração
das exportações brasileiras e aumento das importações
é a crise econômica de vários países
asiáticos, que somaram-se às dificuldades econômicas
internas do Japão. De fato, no ano de 1997, as exportações
do Brasil ao conjunto do bloco asiático apresentaram
retração, com um recuo médio de 28,5%.
As quedas mais pronunciadas foram com a Tailândia (-69,3%),
Filipinas (-55,8%), Indonésia (-49,4%), Malásia
(-45,3%), Coréia do Sul (-38,7%), Japão (-29,1%)
e China (-16,1%)" (7).
No entanto, a baixa participação dos produtos
brasileiros no mercado japonês, historicamente, se deve
ainda a outros fatores. Segundo Dantas de Amorim (1991) pela
concorrência imposta pelos produtos americanos e dos
países conhecidos como Novos Países Industrializados
- NIC's (Cingapura, Coréia, Hong Kong e Taiwan) - da
Ásia. Os primeiros beneficiam-se dos vínculos
econômicos e políticos existentes entre os EUA
e o Japão. No segundo caso, os produtos dos NICs levam
vantagem pelo alto grau de competitividade que adquiriram,
tanto em relação ao custo como em qualidade
em comparação aos brasileiros.
O fato do Brasil não ter acompanhado o crescimento
do intercâmbio comercial do Japão com o resto
do mundo, é resultado também da ausência
de interesses claros na ampliação das relações
comerciais nipo-brasileiras, pois são escassas as iniciativas
para seu aprofundamento. Apesar disso, o relacionamento comercial
Brasil-Japão tem sua importância, particularmente
ao Brasil, pois pelo menos nos últimos quatro anos,
esse país tem se situado sempre entre os cinco principais
parceiros de comércio bilateral (8). De qualquer forma,
dada a reduzida dimensão do intercâmbio comercial,
existe espaço para a sua ampliação, mas
para que ela ocorra parece ser necessário alterar-se
as suas bases. Pois "apesar da dependência do Japão
quanto às importações de matéria-prima
da América Latina, que tanto se falou nos anos 70,
isso não estimulará uma relação
comercial vigorosa, num momento em que o Japão se afasta
cada vez mais da indústria de tecnologia pesada na
direção dos setores de serviços e de
tecnologia" (CHIPMAN, 1992:87).
Outro aspecto a ser considerado para ampliação
das relações comerciais nipo-brasileiras é
a necessidade de atitudes mais afirmativas por parte do Brasil.
Até agora um parceiro passivo desse relacionamento,
que tem se restringindo a satisfazer as demandas japonesas
e especializando-se em suprir necessidades específicas
(soja, minério de ferro, o ferro em barra e alumínio),
servindo como um instrumento para a diminuição
da dependência japonesa em relação a produtos
americanos. Um exemplo dessa realidade é o bem sucedido
investimento no cerrado brasileiro realizado pela Marubeni
- empresa japonesa - e uma agência de governo japonesa,
a OECF - Overseas Economic Cooperation Fund (Fundo de Cooperação
Econômica Externa). Durante a década de 1970,
com um crédito de 3 milhões de dólares
para o plantio de soja na região do cerrado(9), garantiu
uma maior competitividade da produção brasileira
no mercado internacional, reduzindo o preço da soja
americana, à qual se tornou concorrente direta.
Amaury Porto de Oliveira (1993), que estudou essa relação,
ratifica essa interpretação, afirmando que:
"é fácil verificar que são os japoneses
que nos compram, mais do que nós vendemos", um
exemplo disso é, "o notável crescimento
obtido nos últimos dois anos pelas vendas de suco de
laranja brasileiro no mercado varejista do Japão. (...)
A ofensiva do produto brasileiro vem sendo coordenada pela
Mitsui e pela Mitsubishi, com a cooperação da
JETRO - Japan External Trade Organization - (Organização
Oficial de Comércio Exterior do Japão), organização
japonesa para promoção do comércio exterior
e visa sobretudo forçar a queda no preço a varejo
do suco de laranja americano" (PORTO DE OLIVEIRA,1993:13)
Vimos aqui dois atores que têm tido atuação
importante na relação comercial nipo-brasileiro
a Japan External Trade Organization - Jetro - e as trading
companies.
O primeiro, Jetro, fundado em 1958 pelo governo japonês
para promover as exportações japonesas de pequenas
e médias empresas, tem priorizado atualmente o fomento
das importações pelo Japão com objetivo
de atender o mercado interno e suprir as necessidades das
empresas. Com isso contribui simultaneamente para amenizar
o superávit da balança comercial japonesa, que
durante longos anos foi criticado por diversos países.
O segundo ator que tem contribuído para manter as taxas
de importação de produtos brasileiros são
as trading companies japonesas. Segundo Amaury Porto de Oliveira
(1993), em 1991, já havia mais de trinta trading companies
japonesas atuando no Brasil. Entretanto, naquele mesmo ano
não havia ainda nenhuma representação
de trading company brasileira no Japão.
Apesar dos modestos resultados obtidos até agora, e
da redução das exportações brasileiras
nos últimos anos, há fatores que permitem projetar
um recuperação e até um fortalecimento
das relações econômicas nipo-brasileiras.
Entre os fatores que podem contribuir para isso estão:
1) a continuidade da atuação da Jetro, 2) a
formação do Mercosul e 3) a possibilidade de
um novo caminho para exportação dos produtos
brasileiros à Ásia pelo Chile. A viabilização
do corredor Mercosul, ligando Brasil-Argentina, e a sua continuidade
até portos do Chile(10) é um componente estrutural
que pode contribuir para um dinamismo comercial nipo-brasileiro
, pois isso reduziria o tempo e o custo do transporte dos
produtos brasileiros para o Japão e vice-versa.
A Jetro, desde 1992, escolheu o Brasil como o primeiro país
latino-americano para implantação do Plan Project,
que visa a formação e o desenvolvimento de indústrias
brasileiras para abastecer o seu mercado japonês. Este
projeto pode contribuir para o ingresso do Brasil no sistema
denominado por Kotaro Horisaka(11) como "networking industrial"
japonês. Neste caso, a intensificação
das relações comerciais com o Japão,
resultariam de um processo de globalização econômica
e intensificação de negócios intra-firmas.
De fato, este é um canal de negócios promissor,
dados recentes apontam que o percentual de partes e produtos
semi-acabados fornecidos pelas subsidiárias no exterior
às empresas no Japão, cresceu de 23,7%, em 1988,
para 40,4%, em 1994 (12).
O ingresso no "networking industrial" conduziriam
a instalação de novas subsidiárias, o
que em outras palavras significa elevar o volume de investimentos
diretos das empresas japonesas no país. Este é
um aspecto importante das relações Brasil-Japão
que será abordado a seguir.
Notas
(4) YUZAWA, Saburo. "A importância
do Brasil no plano do investimento externo do Japão".
Seminário realizado na Associação Comercial
de São Paulo. 04 de Junho de 1997. (Mimeo)
(5) O superávit brasileiro no relacionamento comercial
com o Japão, obtido de desde 1982 até 1997,
tinha, de acordo com a Câmara de Indústria e
Comércio Japonesa do Brasil, uma forte participação
dos seguintes produtos: minério de ferro e alumínio,
produtos semi-acabados, dentre os quais o café, a celulose
para papel (pasta química), a soja, e mais recentemente,
o suco de laranja concentrado.
(6) Os resultados de 1998 refletiram, "em particular,
a queda das exportações de alumínio em
bruto, minérios de ferro, café em grão,
celulose, carne de frango, ferro-ligas, fumo em folhas e soja
(grão e farelo)" In: SECEX. "Balança
Comercial Brasileira - Dezembro/1998". http://161.148.1.101/merc1298.htm
(7) Ministério da Indústria, do Comércio
e do Turismo/Secretaria de Comércio Exterior. "Balança
Comercial Brasileira". Setembro/98 http://161.148.1.101/merc09.htm
(8) Informações extraídas do relatório
"Estadísticas de Comercio y Económicas"
da ALADI. In: http://www.aladi.org/estadisticas_comercio.htm
(9) Dados apresentados por Amaury Porto de Oliveira em seu
texto "O Brasil e a Bacia do Pacífico". In:
Cadernos do IPRI. Fundação Alexandre Gusmão.
Dezembro de 1993. pp. 20
(10) Há um estudo realizado por José Alex Sant'Anna,
"Possibilidades de interligações terrestres
(Rodoferroviárias e Fluviais) entre o Brasil e o Pacífico",
apresentado no Boletim de Diplomacia Econômica, número
10, do Ministério das Relações Exteriores
do Brasil, que apresenta essa e outras vias de ligação
da economia brasileira com à japonesa.
(11) ORTIZ-MENA L.N, Antonio. "Regional Integration in
the Americas and the Pacific Rim: A Project Report".
CILAS Working Paper No. 11, July 1997. pp. 9.
(12) The World Bank Annual Report, 1996
4. Investimentos Japoneses no Brasil
Ao longo da história das relações nipo-brasileiras
o Brasil já foi um pólo de atração
do investimento direto japonês (FDI). Esses investimentos
iniciaram-se no Brasil na década de 1950, mas o crescimento
significativo ocorre a partir de 1967. "Entre 1957 e
62, aconteceu o primeiro boom da entrada de empresas nipônicas
no Brasil, no pós-guerra. Começou com a Indústria
de Pesca Taiyo, com sede em Santos, seguida da joint-venture
Usiminas, Ishikawajima, Howa, Toyobo, Kanebo, Kurabo, Canetas
Pilot, Ajinomoto, Nippon Reizo, Yanmar Diesel, Kubota Tekko
e outras indústrias e empresas do setor comercial e
financeiro." (NAKASUMI & YAMASHIRO, 1992:431). Naquele
momento os superávits japoneses no seu balanço
de transações correntes possibilitavam e impulsionavam
a realização de novos empreendimentos no exterior
(DANTAS DE AMORIM, 1991).
Entretanto, é na década de 1970 que os investimentos
diretos japoneses ganham importância no Brasil, período
em que ocorrem os maiores fluxos de capital do Japão
ao país. Castigado pelo choque do petróleo,
as empresas desse país procuraram transferir para o
exterior as indústrias que exigiam o uso intensivo
de energia e outros recursos naturais. Isso levou a uma importante
participação dos investimentos japoneses no
Brasil nos setores petroquímico, de alumínio,
papel e celulose, fertilizantes e siderúrgico, constituindo-se
em dos maiores estoques de investimentos estrageiros no país
(Tabela 4).
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Um exemplo do interesse japonês no país
é o projeto Carajás, em que o Japão investiu,
financiou e contribuiu com missões de pesquisa para
sua exploração. Só em financiamento foram
destinados US$ 47,7 milhões(13). Outro empreendimento
importante foi a Cenibra, que fundada em 1973, e hoje conta
com 48,52%(14) do seu capital administrado pelo consórcio
japonês JBP - Japan Brazilian Pulp and Papers Resources
Co.
Na década de 80, nota-se uma redução
do montante de investimentos japoneses no Brasil, e "se
for considerado que, durante esse período, a média
anual dos investimentos diretos japoneses no exterior foi
três vezes superior àquela da década de
70, verifica-se uma grande queda na importância do Brasil
como receptor de investimentos diretos japoneses" (BNDES
1990:74). A diminuição da participação
brasileira nos fluxos de investimentos japoneses, foi resultado
de fatores endógenos - instabilidade econômica
- e exógenos - atração da atenção
japonesa por outros países como os novos países
industrializados da Ásia (DANTAS DE AMORIM, 1991).
Passado os anos 1980, parece haver uma renovação
do interesse japonês pelo Brasil. O cônsul-geral
do Japão em São Paulo, Yasuji Ishikaki, já
em 1993, afirmava que havia uma percepção de
intensificação das relações nipo-brasileiras.
De acordo com as suas declarações, o relacionamento
entre Brasil e Japão estava entrando em nova fase e
os investimentos poderiam voltar (SCHWARTZ, 1993:2-8).
Essa percepção foi reforçada dois anos
depois, em 1995, ano das comemorações do centenário
da assinatura do "Tratado de Amizade, Comércio
e Navegação Brasil-Japão", pelas
trocas de visitas de autoridades e líderes empresariais(YOKOTA,
1997:A2). Conforme aponta o economista Takanori Suzuki, da
consultoria internacional Delloite Touche Tohmatsu: "Nos
últimos dois anos os japoneses recomeçaram a
se movimentar com objetivo de realizar novos investimentos
no Brasil. Até o momento, o número de empresas
japonesas que se acha em fase preparatória para instalar
novas subsidiárias já passa de oitenta. Elas
são atuantes no setor de automóveis (Toyota,
Honda), autopeças, eletroeletrônicos e informática,
máquinas, telecomunicações, alimentos,
etc..." (SUZUKI, 1997)
Exemplos recentes da retomada de interesse são os investimentos
da Furukawa, Sony e Toyota, dos setores de material de comunicação,
eletroeletrônicos e automobilístico, respectivamente.
A multinacional Furukawa no período de 1996-1998 aplicou
US$ 70 milhões(15) para instalação de
uma nova unidade produtiva em Curitiba (PR), para produção
de cabos ópticos e telefônicos. A Sony, fabricante
de eletroeletrônicos, destinou, em 1997, US$ 20 milhões(16)
para a ampliação de suas plantas em Manaus (AM).
Esta empresa retomou a realização de novos investimentos
no País desde 1996, quando investiu esse mesmo montante
para a instalação de uma fábrica de injeção
plástica nessa mesma localidade.
O investimento da Toyota foi de US$ 150 milhões(17)
na construção da sua segunda fábrica
no Brasil em Indaiatuba (SP), no ano 1997. Essa empresa que
voltou a investir depois de 38 anos de presença no
país, já anunciou que tem planos para instalação
de uma nova unidade para produção de carros
populares.
Como resultado dessas medidas o volume de investimentos japoneses
quadruplicou de 1995 para 1996, passando de US$ 280 milhões
para US$ 1 bilhão. E as previsões anunciadas
por Shigueki Tsutsui, vice-presidente da Câmara de Comércio
Japonesa no Brasil, ainda no início de 1997 era a de
que "nos próximos dois anos, os investimentos
japoneses aqui duplicarão, passando para US$ 2 bilhões"(18).
Apesar dos resultados de 1997 não terem atingido os
US$ 2 bilhões, o incremento de 46% no fluxo de investimentos
diretos japoneses ao Brasil em relação a 1996
e cinco vezes maior ao de 1995, demonstrou que empresas japonesas
realmente estão, apesar de cautelosas, retomando os
investimentos no país.
Kotaro Horisaka compara os resultados do ano fiscal 1997,
e dá um destaque maior aos investimentos japoneses
diretos realizados no Brasil.
"No ano fiscal 1997 o investimento total externo cresceu
22% em relação ao ano anterior. O volume para
os EUA, o maior receptor do capital japonês, permaneceu
ao mesmo nível do ano anterior (2.548,6 bilhões
de Yens), e para a Ásia, que tem concentrado 1/4 do
volume total de investimento, registrou um tímido crescimento
de 14%. A Europa e a América Latina registraram um
crescimento elevado, sendo 66% para o primeiro e 55% para
este. Entre os países da América Latina, o Brasil
foi quem mais cresceu em volume, cuja participação
subiu de 0,6% em 1995 para 1,8% em 1996, atingindo 2,2% em
1997. O investimento direcionado ao México, cujo fluxo
vinha sendo impulsionado após a criação
do Nafta, limitou-se a 39,3 bilhões de Yens, ou seja,
o Brasil recebeu um volume 3,7 vezes maior do que aquele país."
(HORISAKA, 1998:5)
Esses dados apontam para uma revitalização do
interesse do setor privado sobre o Brasil. As expectativas
da Japan External Trade Organization (Jetro) são de
que se intensifique a atratividade brasileira não só
das grandes empresas japonesas, mas também das pequenas
e médias. Para isso está sendo difundido no
País, por essa instituição, o projeto
do Tecnocenter (19).
Essas expectativas da Jetro podem conduzir a uma nova fase
de investimentos japoneses, que seria o ingresso no já
mencionado "networking industrial" japonês,
caracterizado por uma seqüência de processos de
industrialização promotora do desenvolvimento
econômico das economias da região da Ásia-Pacífico.
Esse processo que estruturou uma rede de produção
de diferentes níveis tecnológicos pelas transferências
de tecnologias, poderia também ser uma caminho para
adensar as relações entre as economias brasileira
e japonesa.
Notas
(13) Ministério dos Negócios
Estrangeiros do Japão. "Carajás: maior
jazida de ferro do planeta". Notícias do Japão.
Junho 1996. p. 3.
(14) Cenibra Uma história de bons resultados. In: Revista
Imagem. Ano 10. Outubro/1998. http://www.revistaimagem.com.br/89/index.htm
(15) ALVES, Ubirajara. Furukawa amplia a produção
de cabos". Gazeta Mercantil, 28 de fevereiro de 1997,
p. 2.
(16) Dados extraídos da Gazeta Mercantil, 28 de fevereiro
de 1997, p. A-11.
(17) SILVA, Cleide. "Toyota pretende montar carro popular
no País". O Estado de São Paulo, 26 de
março de 1997. p. B-8.
(18) YANAKIEW, Monica. "Japoneses têm interesse
na CVRD". Gazeta Mercantil, 19 de março de 1997,
p. A-6.
(19) "A Jetro convidou o fundador da tecnocenter de Shezen,
Sr. Jiro Ishii, em fevereiro de 1997, e organizou uma mesa
redonda nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba,
Porto Alegre e Goiânia a fim de discutir a viabilidade
da sua fundação nessas cidades" (YUZAWA,
1997)
5. Ajuda Econômica Japonesa ao Brasil
O primeiro fluxo de ajuda externa japonesa recebida pelo Brasil
ocorreu em 1961, fazendo do país um dos primeiros recebedores
de empréstimos do Japão no período pós-1945.
Em outubro de 1962, iniciou-se o projeto da Usina Siderúrgica
de Minas Gerais, para a produção de 3,5 milhões
de toneladas de aço por ano. Este projeto foi desenvolvido
em conjunto, com a participação de capital do
governo japonês, por meio do OECF, e de capital brasileiro.
Posteriormente, nos anos que se seguiram até 1973,
ocorreram novos fluxos de empréstimos, e ao final deste
período (1962-73), o Brasil acumulava o quinto maior
volume de empréstimos(20) fornecidos pelo Japão.
Esses dados no entanto, não modificam o fato de que,
até o momento, o Brasil e os países da América
Latina, como um todo, têm disputado com grande desvantagem
a atenção do Japão com os países
em desenvolvimento da Ásia-Pacífico. Assim como
em termos de comércio e investimento, a ajuda oficial
do Japão aos países do leste e sudeste asiático
tem sido muito mais intensa do que para os latino-americanos.
A concentração dos interesses japoneses nos
países asiáticos é ilustrada claramente
pela distribuição da ajuda econômica oficial
japonesa, conhecida como Official Development Assistance -
ODA. Nos anos de 1950 à 1970, a proporção
de recursos da ODA destinada à região asiática
girava em torno de 90% do volume total distribuído
no globo, chegando ao seu ápice de 100% em 1969 (21).
Essa relação só se altera, e ainda de
maneira relativa, com a crise do petróleo, na década
de 1970, quando os países membros da Organização
dos Países Exportadores de Petróleo (Opec) decidiram
quadruplicar o preço do barril desse produto. Nesse
momento, o governo japonês decidiu diversificar suas
relações com países de outras regiões
além da Ásia. Os países contemplados
por essa nova política foram os ricos em recursos naturais,
como os do Oriente Médio e da América Latina.
E como conseqüência, "durante essa década,
o governo adotou a política 7-1-1-1, no qual o objetivo
era ter 70% da sua ajuda para a Ásia, e o restante
dividido entre o Oriente Médio, a África e a
América Latina" (LAIS, 1990:12).
A manutenção dessa baixa participação
dos países da América Latina é, segundo
Kotaro Horisaka (1993), decorrente do fato "do establishment
japonês e dos formuladores da política externa
do Japão terem sempre uma tendência a considerar
a América Latina como o quintal dos Estados Unidos"
(HORISAKA, 1993:51).
Também nos anos 1970 houve mudanças na política
de ajuda externa japonesa na América Latina. Dessa
forma, apesar de ter havido uma ampliação dos
recursos japoneses destinados a essa região, elas não
beneficiaram o Brasil, pois esses recursos começaram
a ser direcionados a outros países mais pobres. Em
compensação, como foi citado anteriormente,
a partir de 1973, cresce o número de instalação
de empresas japonesas no Brasil, realizando grandes projetos
mistos de cooperação entre setores do governo
e iniciativa privada. Em 1974, durante a visita ao Brasil,
o Primeiro-Ministro Kakuei Tanaka "promete ao Presidente
Ernesto Geisel cooperação do Japão em
várias categorias, incluindo desenvolvimento de energia
hidrelétrica para projetos de produção
de alumínio no Amazonas, projetos de (fabricação
de) papel e celulose, projetos agrícolas e de pesca
" (HOLLERMAN, 1988:51).
Nessas promessas incluía-se o projeto de desenvolvimento
do cerrado, que foi aceito e teve continuidade com a assinatura
do protocolo do programa global de cooperação
econômica, durante uma viagem do Presidente Ernesto
Geisel ao Japão, em 1976. A negociação
dos termos do projeto duraram praticamente 4 anos. Com isso,
sua implementação foi iniciada somente em novembro
de 1978, com a criação da Campo (Companhia de
Promoção Agrícola), instituição
que ficou responsável pela execução do
acordo.
Para o sustento financeiro da Campo foram criadas duas empresas
de investimentos: a Brasagro, empresa brasileira, criada com
a participação de 44 entidades, entre as quais
o Branco do Brasil e o Banco de Desenvolvimento do Estado
de Minas Gerais; e outra japonesa, a Jadeco. O desenvolvimento
do projeto foi planejado pelo Ministério da Agricultura
do Brasil, e deveria ser realizado em etapas: a primeira,
Prodecer I, executada em Minas Gerais, contou com uma área
de 58,7 mil hectares, envolvendo US$ 50 milhões - 49%
fornecido pela Jadeco e 51% pela Brasagro, foi concluída
em 1982. A segunda, Prodecer II, iniciou-se em 1985, e em
razão do sucesso obtido na primeira etapa, ampliou-se
em três vezes a área para execução
do projeto, passando a envolver uma área de 190 mil
hectares e um orçamento de US$ 300 milhões,
divididos entre os dois governo.
Além desse projeto, durante a visita do Presidente
Ernesto Geisel ao Japão, o Primeiro-Ministro Takeo
Miki, com um montante de US$ 3 bilhões, comprometeu-se
com a "construção de uma usina (de beneficiamento)
de alumínio em Belém, (...) ajudar a construção
do primeiro estágio da Usina Siderúrgica de
Tubarão, cooperação no projeto para construir
um porto na Praia Mole, apoio para o projeto de suprimento
de papel e celulose para Cenibra e Flonibra, ajuda ao projeto
de expansão da Usiminas, e ajuda para exploração
de jazidas de ferro brasileiras, como a de Capanema, e apoio
para a Nibrasco, joint venture para exportação
de ferro para o Japão" (HOLLERMAN, 1988:51).
|
Do início dos anos 1980 até
meados dos anos 1990, a cooperação técnica
passa a ser o destaque dentre os tipos de ajuda oficial japonesa
para o país, mantendo uma tendência de crescimento
constante, passando de US$ 14,60 milhões para US$ 66,96
milhões. Entretanto, as doações em espécie
têm permanecido zeradas, com algumas pequenas exceções
nos anos de 1988, 1994 e 1996. Esse números são
resultados da política japonesa de restringir as doações
apenas aos países de baixa renda(22) .
Segundo Leo Hollerman (1988) a cooperação técnica(23)
japonesa tem um particular significado para o Brasil, pois
apesar de não figurar entre os maiores montantes fornecidos
pelo Japão, "a transferência de tecnologia
(japonesa) é de extrema importância para o Brasil,
como avanço na fabricação de produtos
intermediários por meio de tecnologias mais sofisticadas"
(HOLLERMAN, 1988:108). Além disso, mesmo que a proporção
da ajuda técnica/ODA japonesa (12,5%) esteja abaixo
da média dos demais membros do DAC (21,8%), há
de se notar , durante o período de 1982-1992, um crescimento
na cooperação entre o Brasil e o Japão.
Leo Hollerman (1988) chama a atenção também
para o fato de que, nos anos que antecederam a 1980, nenhum
outro país da América Latina recebeu tanta ajuda
técnica quanto o Brasil, mostrando a preferência
do Japão pelo País. Os dados de 1996, mostram
que tal quadro ainda se mantém. Em valores absolutos
naquele ano o Brasil recebeu US$ 51,99 milhões, enquanto
o segundo colocado, o México, US$ 37,71 milhões(24).
Vale destacar que o Brasil está entre os sete maiores
recebedores de cooperação técnica japonesa
do mundo (Tabela 6), atrás apenas dos países
asiáticos, que têm a China em primeiro lugar.
Dentre os principais aspectos dessa relação
estão a ida de estudantes brasileiros ao Japão,
o envio de peritos japoneses ao Brasil e o fornecimento de
equipamentos. Segundo os dados de 1994, havia 22 projetos
de cooperação técnica em desenvolvimento
e mais 28 em estudo para desenvolvimento(25), abrangendo diversas
áreas (médicas, tecnológicas, ambientais,
industriais, entre outros) não privilegiando um setor
específico.
|
Os empréstimos, entretanto, em oposição
à cooperação técnica, mostram
mais claramente quais são os setores priorizados, divididos
em dois grandes grupos: infra-estrutura e meio ambiente. Existe
uma tendência geral no Japão de promover atividades
de cooperação nesses campos. Em 1991, no relatório
publicado pela JICA(26), especificamente sobre o Brasil, o
meio ambiente aparecia entre as três áreas de
prioridades na relação de cooperação
Brasil-Japão. "A ajuda de desenvolvimento deve
ser fornecida baseada no reconhecimento de que as coisas particularmente
importantes para o relacionamento entre o Brasil e Japão
são: (1) a modernização e desenvolvimento
sustentável da economia; (2) políticas direcionadas
para a pobreza (saúde, assistência médica
e desenvolvimento de recursos humanos) e (3) cooperação
(em questões) de meio ambiente." (JICA, 1991:9)
Os projetos firmados entre o Brasil e o Japão nos anos
de 1989, 1992 e 1996 exemplificam a ênfase que a política
japonesa tem dado a essas áreas, pois os últimos
empréstimos feitos para o Brasil (Quadro 1), enquadram-se
ou em temas de meio ambiente ou de infra-estrutura.
Os recursos para os projetos de 1989, solicitados pelo Presidente
José Sarney, durante sua viagem ao Japão para
participar do funeral do Imperador Hiroito, exemplificam o
padrão japonês de fornecimento de ajuda baseado
na apresentação de pedidos e de projetos. Todo
o recurso foi dividido entre quatorze projetos, a maioria
deles relacionados com o setor de transporte e de energia.
Dentre eles, os sete maiores são:
a) projeto de construção de uma usina termoelétrica
em Paulínia, São Paulo;
b) projeto de modernização do sistema de rodovias
metropolitanas de Fortaleza;
c) empréstimos para o financiamento de comércio
e operações bancárias;
d) projeto de duplicação da linha de transmissão
elétrica entre Tucuruí e Albrás - joint
venture entre a Companhia Vale
do Rio Doce e a Companhia Nippon Amazon de Alumínio
(subsidiária japonesa);
e) projeto de modernização do porto de Santos;
f) projeto de eletrificação da zona rural de
Goiás;
g) projetos de irrigação do nordeste.
Os recursos para os projetos de 1992 foram anunciados durante
a Conferência do Rio. O governo japonês anunciou
o "empréstimo do Banco de Importação
e Exportação do Japão, totalizando US$
300 milhões para apoiar a melhoria do meio ambiente
e a reforma econômica do Brasil. O Japão anunciou
também empréstimos totalizando aproximadamente
780 milhões de ienes para três projetos, "nominalmente:
o 'Projeto de Construção de um Sistema de Esgoto
na Baía de Guanabara', 'Projeto de Despoluição
da Bacia do Rio Tietê', e 'Projeto de Construção
de uma Estação de Tratamento de Lixo Sólido
da Área Metropolitana de São Paulo'." (MINISTRY
OF FOREIGN AFFAIRS, 1993:296)
Os projetos anunciados em 1996 (Ver quadro 1), acordados durante
a visita do Presidente Fernando Henrique Cardoso
ao Japão, em março daquele ano, reforçaram
os critérios do meio ambiente e infra-estrutura. Foram
acertados também empréstimos pelo Eximbank japonês
para: projeto modernização da ferrovia nos arredores
de Fortaleza (US$ 268 milhões); obras de reparação
da rodovia ligando São Paulo a Florianópolis
(US$ 450 milhões); obras de reparação
da malha viária
do Estado de Tocantins (US$ 48 milhões); financiamento
para assistência a empresas de descendência japonesa
(30 milhões de ienes).
|
Essa orientação, entretanto,
não impede a continuidade de projetos anteriores. Em
1997, o ministro do Planejamento, Antônio Kandir foi
ao Japão assinar o contrato de US$ 1,6 bilhão(27)
junto a Overseas Economic Cooperation Fund para a liberação
de novos financiamentos. Parte desses recursos, US$ 800 milhões(28),
segundo o secretário de Política Agrícola
do Ministério da Agricultura, Guilherme Dias, foi comprometida
para a realização da terceira fase do Prodecer,
que iniciada em 1978 teve a sua última liberação
de recursos em 1985.
Nos últimos dez anos, com exceção dos
anos de 1991 e 1992 quando ficou em segundo, atrás
apenas da Alemanha, o Japão tem sido o maior fornecedor
de ajuda externa ao país, tornando-se um importante
parceiro nessa área. Atualmente o Brasil é o
país que sedia os treinamentos promovidos pelo governo
japonês para profissionais da América Latina.
Um exemplo desse tipo de cooperação foi o programa
de especialização realizado de 23 de junho a
15 de agosto de 1997, no Centro Nacional de Tecnologia em
Mecatrônica do Senai, em São Paulo, uma parceria
com a Japan International Cooperation Agency - JICA(29).
Notas
(20) No período de 1962-1973,
os empréstimos provenientes do Japão tiveram
uma elevação do seu índice médio
de grant element de 17,52 para 42,65%. Entretanto, os empréstimos
direcionados ao Brasil mantiveram uma média de grant
element igual a 17,22%, abaixo do índice mínimo
exigido (25%) para que um recurso seja considerado ajuda oficial
de desenvolvimento - ODA.
(21) HASEGAWA, Sukehiro. Japanese Foreign Aid: Policy and
Practice. New York, 1975. 170p.
(22) De modo geral, os países com renda per capita
superior a US$ 1700 estão desqualificados para receber
qualquer tipo de ajuda do Japão. Esse critério
impossibilitaria muitos países latino-americanos de
receberem ajuda japonesa, inclusive o Brasil que possui uma
renda per capita de US$ 3640 (Banco Mundial). No entanto,
um outro critério, o que qualifica os países
com dívidas externas elevadas, isto é cujos
os pagamentos dos serviços são iguais ou superiores
a 25% do total das suas exportações, requalificam-os
para receber a ajuda japonesa.
(23) A cooperação técnica entre o Brasil
e Japão é regulada pelo Acordo Básico
de Cooperação Técnica, assinado em 22
de setembro de 1970.
(24) MINISTRY OF FOREIGN AFFAIRS. Japan's Official Development
Assistance: Annual Report 1997. Tokyo: APIC, 1998. 416p
(25)Consulado Geral do Japão. "Relações
bilaterais entre o Japão e o Brasil". http://www.rio.com.br/cccjapao/
(26) Este estudo realizado sob a responsabilidade da JICA,
em colaboração com o Instituto para Cooperação
Internacional, enquadra-se no conjunto de trabalhos realizados
nos mesmos moldes, abrangendo diferentes países. Estes
trabalhos, segundo a JICA, têm a finalidade de recolher
informações sobre os países recebedores,
espalhados pelo mundo, com o fim de se conseguir produzir
melhores resultados com os recursos utilizados.
(27) "Kandir vai ao Japão para acertar financiamentos
de US$ 1,6 bilhão". O Estado de São Paulo,
19 de março de 1997. p. B-5.
(28) GUIMARÃES, Helder. "Japão aumenta
a aposta no cerrado". Gazeta Mercantil, 18 de fevereiro
de 1997, p. B-18.
(29) "Parceria Senai e Jica treina técnicos da
AL". Revista da Indústria, 19 de maio de 1997.
pp.32-33
6. O Relacionamento Político Japão-Brasil
O Brasil já teve uma posição de destaque
nas relações do Japão com os países
em desenvolvimento, principalmente no âmbito da América
Latina. Como mencionado anteriormente, foi um dos primeiros
países do mundo a receber ajuda econômica japonesa
no período do segundo pós-guerra, e também
já foi foco de interesse dos investimentos diretos
japoneses. Contudo, o aprofundamento das relações
foram frustradas, contribuindo para isso os problemas brasileiros
de instabilidade política e econômica (estagnação
reincidente e inflação crescente) apresentados
ao longo da década de 1980.
Houve nesse período também um desgaste das relações
nipo-brasileiras pela perda de credibilidade por parte do
Brasil, fato que parece estar se revertendo paulatinamente.
Além disso, conforme afirmou Horisaka (1993), uma das
limitações de uma maior aproximação
do Japão em relação aos países
latino-americanos era o temor de estar interferindo na área
de influência estritamente dos Estados Unidos. Agora
com "o fim da Guerra Fria, que abriu a possibilidade
de uma política externa japonesa mais independente
" (HAGGARD, 1996:6), essa barreira poderá diminuir.
A queda do muro de Berlim, em 1989, e o início do período
de transformações internacionais, proporcionaram
aos países a possibilidade, quando não a necessidade,
de ocuparem novos papéis no ordenamento global em transição.
Dessa forma, tanto o Brasil como o Japão estão
diante de um cenário de indefinições,
o qual pela existência de alguns interesses convergentes
poderão conduzir a diálogos mais intensos. As
candidaturas do Japão e do Brasil a assentos permanentes
no Conselho de Segurança da Organização
das Nações Unidas, são um exemplo de
interesse comum.
Um sinalizador político da renovação
do interesse japonês em relação ao Brasil
foi a visita ao país do Primeiro-Ministro japonês,
Ryutaro Hashimoto, em agosto de 1996. Essa foi a primeira
visita de um primeiro-ministro japonês ao País
depois de 14 anos. Na visita foi o anunciado o Programa de
Amizade Japão-América Latina, projeto envolvendo
visitas de 50 funcionários, em média, do governo
brasileiro por ano ao Japão. Nessa oportunidade foi
definido ainda a realização em 1997 do Simpósio
América Latina, no Japão, visando celebrar o
fortalecimento das relações entre a Ásia
e a América Latina(30) .
Em 1997, houve a vinda de uma missão empresarial japonesa
coordenada pela Keidanren(31), Federação das
Organizações Econômicas do Japão,
com a finalidade de estudar as possibilidades e oportunidades
de negócios com o Brasil. Além desses fatos
não se deve ignorar o significado político às
relações nipo-brasileiras das visitas do casal
Imperial às capitais brasileiras, durante nove dias,
no ano de 1997.
Essa viagem teve dois componentes de destaque: a primeira
dimensionada pela declaração do embaixador Akitane
Kiuchi:
"em nenhum outro país o imperador esteve por tanto
tempo em visita oficial como no Brasil"(32) ; a segunda
e pelo fato de ter sido a primeira viagem do Imperador, fora
do seu país, após um período de quase
dois anos, em que esteve ocupado com os problemas internos
do Japão.
Percebe-se que ao longo da década de 1990 o Brasil
conseguiu obter alguns ganhos na sua relação
com o Japão, ainda que manifestadas de maneira tímida
e algumas vezes indiretas. Contudo, as novas realidades tanto
no âmbito global como regional, podem tornar o Brasil,
juntamente como Mercosul, mais atrativo aos interesses econômicos
e políticos japoneses
Notas
(30) "Primeiro-Ministro japonês no Brasil".
Notícias do Japão. Novembro de 1996. p.4.
(31) A missão foi chefiada pelo presidente da Keidanren
e da Toyota Motors, Shoichiro Toyoda, contando ainda com a
presença ainda de Norio Ohga (presidente da Sony),
Minoru Murufushi (presidente da Itochu Corporation), Kuro
Suehiro (vice-presidente da Nippon Steel)
(32) FERRARI, Lívia & FANTIN, Elvira. "Imperador
do Japão encerra visita ao País". Gazeta
Mercantil, 9 de junho de 1997. p. A-5.
7. Considerações finais
Foram enumerados vários elementos da relação
nipo-brasileira, e ainda que esteja se abordando o relacionamento
entre
a maior economia da América Latina e da Ásia,
respectivamente, Brasil e Japão, e que haja sinais
de revitalização,
não se pode afirmar com segurança quais serão
os resultados neste final de milênio.
Os últimos anos estão sendo marcados por grandes
abalos nas estruturas internacionais. O sistema encontra-se
em instabilidade e o aprofundamento da interdependência
entre as nações fez com que os problemas e preocupações
ultrapassassem os limites das fronteiras do países.
Portanto, ainda que se possa dizer que resultados positivos
nos seus respectivos processos de ajustes internos desenvolvidos
atualmente tanto pelo Brasil como pelo Japão sejam
imprescindíveis para o revigoramento das relações
entre os dois países. O futuro depende também
de soluções aos problemas do sistema como um
todo.
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