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Carta Asiática
Reformas
Políticas e Econômicas na Coréia
Ahn
Choong-yong
Tradução: Gilmar Masiero e Juliana Simonishi
Em apenas 30 anos, a Coréia do Sul se transformou de
uma das mais pobres economias agrícolas do Leste Asiático
na 11º maior economia do mundo. No relatório "The
East Asian Miracle" de 1993, o Banco Mundial citou a
Coréia como um exemplo de país desenvolvido
que atingiu um rápido crescimento econômico e
grande transformação industrial. O "comprimido"
crescimento econômico coreano até a década
de 80 foi proporcionado pela estratégia do governo
de industrialização voltada às exportações
e capitalizada nos recursos de mão-de-obra de alta
qualidade, que a Coréia desfrutava durante o primeiro
estágio do seu desenvolvimento econômico.
O sucesso da estratégia de crescimento rápido
também pode ser atribuído ao caráter
do seu povo, que lutava para tirar o país da pobreza,
assim como aos empreendedores coreanos, que queriam expandir
seus negócios com a ajuda dos regimes autoritários.
Nos anos 90, entretanto, a tendência da globalização
e a era da Organização Mundial do Comércio
mudaram este cenário. A globalização
exigia que a Coréia mudasse sua estratégia econômica
nacional, transformasse seu estilo administrativo e introduzisse
reformas, se quisesse manter o crescimento econômico.
O fracasso coreano em adequar-se a essas novas exigências
levou à situação extraordinária
de ter que buscar ajuda no Fundo Monetário Internacional
e ser colocado sob sua supervisão.
Em julho de 1997, o Leste Asiático foi atingido por
uma crise financeira. A Coréia rapidamente tornou-se
uma das vítimas, quando Seul foi colocada sob a supervisão
do FMI em dezembro de 1997. Então o país se
submeteu a uma mudança no governo que passou a ser
liderado por Kim Dae-jung, cujos ideais básicos de
governo podiam ser resumidos como "o desenvolvimento
paralelo da democracia e da economia de mercado". Como
escreveu o cientista político americano Francis Fukuyama,
a promoção simultânea da democracia e
da economia de mercado é um processo de estabelecimento
de um sistema político e econômico para que um
país ganhe maturidade.
Este processo na Coréia deveria ser interpretado como
uma reforma estrutural dos sistemas políticos e econômicos
de uma nação, e como uma estratégia para
o desenvolvimento industrial visando se preparar para a era
da informação e da inteligência no século
21. Especificamente, isto também deveria envolver a
exclusão da antiga colisão coreana entre política
e empresa, inspecionar a burocracia do setor bancário,
excluir as irregularidades, corrupção e o risco
moral que estavam presentes na economia e política
do país por tanto tempo.
Primeira mudança de poder para a oposição
O estabelecimento do governo Kim Dae-jung merece um lugar
especial na história política coreana, por representar
a primeira mudança de poder para um partido da oposição.
A transferência de poder para a oposição
deveria ser reconhecida como um marco no desenvolvimento político
nacional porque esta é uma evidência clara de
que a responsabilidade governamental está se fixando
na Coréia. O precedente foi retirado do poder, através
de um processo democrático, de um partido que fracassou
no governo e não atendeu às expectativas da
população. Isto também propiciou uma
oportunidade para os princípios do mercado de "responsabilidades
e recompensas" fazerem parte da economia.
Até recentemente, o partido da administração
de Kim mantinha somente uma posição minoritária
na Assembléia Nacional, e a legislatura fracassou em
atuar por algum tempo com partidos da oposição
e da situação lutando pelo controle político.
A legislatura fracassou em atuar na pilha de contas econômicas
que eram necessárias para reformar a economia de acordo
com os mandatos do FMI. O país agora enfrenta a terrível
tarefa de se livrar do controle do FMI e de restaurar a confiança
da economia coreana na comunidade estrangeira. Assim, agora
mais do que nunca, é crucial que a legislatura trabalhe
eficientemente.
Uma das mais importantes realizações do novo
governo em lidar com os problemas econômicos da nação
foi o acordo social entre governo, empresa e trabalhadores.
As relações entre empresas e trabalhadores na
Coréia têm sido litigiosas nos últimos
anos devido às disputas trabalhistas e os incidentes
violentos que começaram com a liberalização
do sistema de contrato nos anos 80 promovendo os direitos
dos trabalhadores. Nos primeiros anos do desenvolvimento econômico
e político coreano, anterior à emergência
deste sistema, a indústria coreana desfrutou do que
poderia ser chamado de um ambiente de trabalho reprimido.
Mas, na década passada, os salários dos trabalhadores
subiram mais rápido do que os ganhos na produtividade
industrial. A Coréia passou por um período de
salários excessivamente altos. Agora, o FMI está
demandando reformas visando melhorar a flexibilidade no mercado
de trabalho. Isto significa que as dispensas temporárias
farão parte da estrutura de empregos da Coréia
para facilitar a reestruturação corporativa,
enquanto conservam-se os direitos básicos dos trabalhadores.
Quando uma sociedade industrial continua a expandir economicamente
por um período extenso, isto inevitavelmente leva a
vários problemas, incluindo uma distribuição
desigual de renda e conflitos entre os grupos de interesse.
Em janeiro de 1998, antes do Presidente Kim assumir a posição,
a transição governamental se uniu a uma comissão
tripartite de representantes dos trabalhadores, de empresas
e do governo, que obteve êxito ao estabelecer um acordo
social para dividir as dificuldades na reestruturação
corporativa. O verdadeiro significado destes três grupos
para o acordo se refletiu na decisão coletiva de superar
a atual crise financeira. O fato deles terem concordado em
resolver conflitos entre as unidades econômicas e grupos
de interesse de diferentes visões, através de
um processo democrático envolvendo participação,
diálogo e concessões, representa um notável
avanço na história política coreana.
A Coréia deveria ser capaz de aplicar o princípio
da responsabilidade para sua economia e estabelecer padrões
de mercado para recompensa e punição - regra
que recompensa administradores e firmas que façam bem
e punem aqueles que fracassam, incluindo a sua demissão
se permitido. Tais regras deveriam ajudar a superar o risco
moral da burocracia e prevenir o governo de resgatar empresas
falidas com impostos de renda na desculpa de que a falência
deve ter um efeito inaceitável na economia.
Principais causas da Delegação do FMI
Há alguns problemas comuns na Coréia, Tailândia,
Indonésia e outros países que estão sofrendo
a crise financeira. O primeiro é que grandes quantidades
de recursos estrangeiros que entraram nestes países
em 1994 e 1995 resultaram em investimentos não-produtivos,
contribuindo assim, com os problemas econômicos. Este
capital estrangeiro, incluindo dinheiro de curto prazo, entrou
em mercados emergentes no momento em que estes países
estavam passando por um rápido crescimento. Em alguns
países, estes recursos representavam de 40 a 50% de
seus respectivos PNB.
Segundo, a rápida desvalorização do yen
japonês e a competitividade dos produtos chineses baseados
em baixos salários começaram a provocar a diminuição
das exportações do sudeste asiático em
1996. Estes países, consequentemente, pagaram os déficits
nas suas contas com a disponibilidade de capital estrangeiro.
Terceiro, a relutância e a fragilidade dos setores financeiros
nestes países tornou difícil para os seus governos
controlarem efetivamente as rápidas entradas de capital,
especialmente "hedge funds" e "hot money".
Em quarto lugar, todos estes países empregaram políticas
rígidas de câmbio, com suas moedas ligadas ao
dólar americano, enquanto fracassavam em ajustar rapidamente
o yen japonês.
O yen japonês, que alcançou uma alta de 79 yen
por dólar, começou a cair em 1995, chegando
a um nível de 130 yen por dólar. E, devido ao
fato da Coréia e outros países asiáticos
terem ligado suas moedas ao dólar, suas taxas de câmbio
vis-à-vis o yen ganharam força. No fim, isto
drasticamente diminuiu a competitividade dos preços
dos produtos de exportação da Coréia
e de outros países do leste asiático. O fluxo
do desvalorizado yen japonês a taxas de juros extremamente
baixas no sudeste asiático ajudaram a estabelecer o
palco para a crise financeira na região. O yen japonês,
com uma taxa de redesconto de 0,25 a 0,5% e a taxa de câmbio
de aproximadamente 120 yen por dólar hoje, era de 79
yen por dólar em 1993.
No final dos anos 80, o Japão começou a expandir
seus investimentos estrangeiros diretos em países como
Malásia e Tailândia, proporcionando empréstimos
baseados no yen a baixas taxas de juros. Assim, enquanto bancos
do sudeste asiático estavam cobrando 16% de juros sobre
seus empréstimos, eles estavam utilizando recursos
baseados em yens emprestados dos bancos japoneses a taxas
de juros inferiores a 5%. Esta situação levou
a um grande fluxo de recursos japoneses no sudeste asiático,
com a dívida externa da Tailândia subindo de
47 bilhões de dólares em 1993 para 77 bilhões
em setembro de 1996. Este fluxo de capital baseado no yen
criou problemas em muitos dos mercados imobiliários,
empurrando os preços territoriais na Tailândia
e na Malásia de 50 para 100% em apenas três ou
quatro anos. Mas quando a economia regional começou
a balançar em agosto de 1997, os preços imobiliários
no sudeste asiático começaram a cair de 20 a
40%, contribuindo com o colapso dos preços das ações.
Como o yen japonês continuou a declinar em valor, muitos
países na Ásia depreciaram suas moedas, desestabilizando
as taxas de câmbio regionais.
Enquanto isso, a China, com sua abundante força de
trabalho e baixos salários, desvalorizou seu yuan em
35% no início de 1994, tornando-se assim, super competitiva
em produtos de trabalho intensivo e em itens de tecnologia
intermediária. A média do salário na
China por hora é atualmente de 0,90 dólares
- notavelmente abaixo da Indonésia, que é de
1,8 dólares, nas Filipinas de 1,3 dólares e
na Tailândia de 3,0 dólares. Como resultado,
a parcela da China no mercado de importação
americano - o maior do mundo - subiu de 6% em 1987 para 26%
em 1996. A China também atingiu uma grande parcela
do mercado mundial de exportações, expandindo
da indústria leve (têxteis e calçados)
para produtos de indústrias pesadas e químicas.
Eventualmente, as exportações de baixos salários
da China levaram as economias do leste asiático à
recessão, piorando seus déficits na balança
de pagamentos externa.
Além desses fatores estruturais, a Coréia era
incapaz de atender às demandas de seus credores estrangeiros
por repagamento de empréstimos devido à escassez
de reservas de moeda estrangeiras. Muitas instituições
coreanas que realizavam empréstimos seguraram recursos
estrangeiros na forma de empréstimos de curto prazo
que eram usados para investimentos de longo prazo ou projetos
financeiros de médio a longo prazos em países
terceiros, com o objetivo de adquirir um lucro rápido
através da diferença nas taxas de juros. Mais
de 60% da dívida externa coreana em novembro de 1997
envolvia obrigações de curto prazo. Esta situação
indicava que a Coréia havia fracassado em adotar medidas
macroeconômicas necessárias para o controle efetivo
ou alocação de grandes quantidades de capital
estrangeiro entrando no mercado coreano. Em resumo, o atrasado
setor financeiro coreano e a supervisão inadequada
do governo ajudou a exacerbar a ineficiência dos problemas
econômicos criados pelas instituições
financeiras do país.
A seriedade da crise financeira que agora está presente
na Coréia tornou-se clara quando a Standard & Poor's
reduziu a taxa de crédito do país em 24 de outubro
do ano passado. Mesmo quase depois de um ano de reestruturações,
o crédito da Coréia nos mercados estrangeiros
permanece um pouco acima do "junk bond status".
No final de janeiro de 1998, o FMI calculou que a dívida
externa coreana estava em 152 bilhões de dólares,
excluindo 52 bilhões que as filiais das empresas coreanas
emprestaram de bancos locais. Como resultado, o FMI exigiu
que a Coréia reestruturasse sua economia para tratar
da sua falta de liquidez estrangeira e assegurar o repagamento
dos juros da sua dívida externa.
A reestruturação demandada pelo FMI incluía:
1) a completa abertura do mercado de capital doméstico,
incluindo liberalização cambial assim como fusões
e aquisições corporativas; 2) subir as taxas
de juros e adotar políticas monetárias e orçamentárias
austeras; 3) supervisionar instituições financeiras
domésticas e corporações baseadas nos
padrões internacionais de transparência; e 4)
criar um mercado de trabalho mais flexível. Os fracassos
de tantas instituições financeiras e corporações
podem ser uma evidência do sério problema estrutural
que se desenvolveu no curso do rápido crescimento econômico
coreano. Mas deveria ser lembrado que as instituições
bancárias financeiramente fracas e as corporações
eram os principais problemas, mesmo antes do começo
da atual crise financeira.
Pronta recuperação da crise de moeda estrangeira
O governo Kim Dae-jung começou a tentar resolver o
problema da falta de liquidez estrangeira coreana mesmo antes
que fosse formalmente estabelecida uma equipe econômica
especial com autoridades das administrações
atual e passada. Esta comissão rapidamente obteve recursos
do FMI e de outras organizações internacionais
como o Banco Internacional para Reconstrução
e Desenvolvimento, obteve êxito ao negociar um "rollover"
da dívida de curto prazo das instituições
financeiras domésticas, e abriu caminho para a emissão
"currency-denominated public bonds" garantidas pelo
governo. As reservas estrangeiras coreanas, que chegaram a
uma baixa de 3,9 bilhões de dólares no dia das
eleições presidenciais, em 18 de dezembro de
1997, alcançaram uma alta de 39,3 bilhões de
dólares a partir do final de julho de 1998 ( as reservas
estrangeiras atingiram 44 bilhões de dólares
a partir de 15 de outubro de 1998). A parcela da dívida
externa de curto prazo da dívida total também
aumentou muito, ajudando assim, a estabilizar o mercado estrangeiro
coreano em um curto período. Como resultado, os juros
do país e as taxas de câmbio, que pareciam não
ter outra saída que não serem aumentadas, começaram
a se estabilizar e baixar.
O governo também liberalizou o ambiente de investimentos
para investidores internacionais, além de arrumar as
provisões legais relacionadas a investimentos estrangeiros
para estar em acordo com os padrões internacionais.
As reformas implementadas pelo governo para encorajar a entrada
de capital estrangeiro incluíam: 1) a remoção
dos limites diários nas flutuações das
taxas de câmbio; 2) a proibição de novas
garantias de dívidas entre as filiais dos conglomerados
coreanos; 3) a abolição das instituições
financeiras que garantiam as dívidas umas das outras;
4) liberalização das linhas de negócios
nas quais os estrangeiros poderiam investir; 5) a aprovação
de fusões e aquisições corporativas;
6) liberalização das aquisições
estrangeiras de bens imóveis coreanos. Ao mesmo tempo,
o governo concluiu um acordo de investimento entre a Coréia
e os Estados Unidos, forçou o Banco de Importações
e Exportações Americano a aumentar o crédito
comercial para empresas coreanas, encorajou investimentos
dos Estados Unidos, e se esforçou para atrair capital
estrangeiro.
No acordo formal do FMI de 19 de dezembro de 1997, a Coréia
começou a desenvolver programas para reestruturar sua
economia e liberalizar seu mercado de capital, incluindo a
aceleração de certos compromissos. O governo
conseguiu recuperar a confiança da comunidade internacional
efetuando novos sistemas de acordo com os padrões internacionais.
Estas ações incluíam: 1) supervisionar
a administração do Banco Central Coreano e do
Banco de Seul; 2) abolir controles nas taxas de juros; 3)
reforçar as leis sobre o fechamento, perdas de alocação
e redução no lucro das instituições
financeiras falidas; 4) permitir que os estrangeiros escolhessem
os diretores do banco; 5) abrir completamente os tipos de
instrumentos financeiros emitidos no mercado financeiro de
curto prazo; e 6) abolir os tetos de investimentos em mercados
de ações.
Extensiva reforma estrutural
Durante os primeiros seis meses no poder, o governo não
somente começou a negociar a crise estrangeira, mas
também completou o trabalho de restruturação
das corporações, do mercado financeiro, do governo
e de setores sindicais. Para transformar a burocracia em um
governo "pequeno mas eficiente", a administração,
em fevereiro, providenciou uma reforma na organização
governamental nacional, e está preparando uma reforma
para a organização governamental local para
a segunda metade do ano. Também começou a regularizar
as empresas públicas e as organizações
governamentais. Para isso, o governo vai privatizar 5 corporações
públicas e 33 companhias já saneadas pelo governo
antes de privatizar 6 outras corporações públicas
e 28 companhias do governo.
Com relação ao guarda-chuva das organizações
governamentais, a orientação geral do governo
é para fusões, fechamentos e privatizações,
além de adotar sistemas administrativos baseados na
responsabilidade, sob os quais suas operações
e orçamentos devem ser justificados. O governo também
está pretendendo reformar os sistemas fiscais e tributário
para que seu orçamento possa ser mais orientado para
os resultados enquanto promove justiça e transparência.
Através da reforma do sistema regulatório, o
governo pretende extinguir mais de 50% das regulamentações
existentes até o final do ano. E como parte destes
esforços para lidar com o problema de empresas públicas
falidas, o governo diminuiu os salários e os programas
de pagamento de aposentadorias para oficiais e empregados
destas organizações.
Na área financeira, o governo investiu 3 trilhões
de won no Banco Central da Coréia e no Banco de Seul
em janeiro, depois desses bancos terem sido punidos por diminuir
em seu capital, e agora está se preparando para vender
os bancos para quaisquer compradores, incluindo investidores
internacionais. Em junho, o governo anunciou um plano de reestruturação
bancária em cinco dos doze bancos domésticos
que faliram devido ao "capital adequacy ratio" de
8% a partir do final de 1997, que seria ajustado por aquisição
ou suposição; isto é, eles seriam fechados
e tomados por outros bancos. Para os outros sete bancos que
faliram devido às exigências do BIS mas que foram
permitidos a manter-se abertos, o governo exigiu uma boa performance
empresarial da supervisão administrativa, diminuindo
suas atividades, mão-de-obra e aumentando seu capital.
Para os doze bancos coreanos cujos "capital adequacy
ratios" excederam os 8% do BIS, o governo realizará
uma supervisão completa de suas condições
e cobrará melhoras quando necessário. A versão
coreana do "big bang" no setor financeiro provavelmente
levará a um grande número de fusões bancárias,
como aquelas recentemente anunciadas entre o Banco Comercial
da Coréia e o Banco Hanil, o Banco Kookmin e o Banco
Coreano de Crédito de Longo Prazo, o Banco Boram e
o Banco Hana. Espera-se que este tipo de associações
continue, para que a reestruturação no setor
bancário se torne clara até o final do ano.
Para instituições financeiras não bancárias,
o governo planeja concluir suas reformas no final de 1998,
transferindo a maior parte da responsabilidade para os principais
acionistas de cada instituição. Como parte deste
plano, o governo em agosto fechou quatro companhias de seguro
e exigiu que outras sete apresentassem medidas extensivas
de ajuda para assegurar sua sobrevivência. O governo
também implementou um plano de reforma para o setor
financeiro que exigirá o uso de aproximadamente 50
trilhões de won em recursos públicos para ajudar
a reestruturação das instituições
financeiras coreanas. Isto, além dos 14 trilhões
de won que o governo já decidiu ajudar. Dos 50 trilhões
de won, 25 trilhões serão usados para resolver
maus empréstimos, 16 trilhões para recapitalizar
instituições financeiras, e 9 trilhões
para pagamento de depositantes. O governo reformou o sistema
fiscal financeiro pela delegação de mais autoridade
ao Banco da Coréia e integrando as organizações
fiscais do governo.
Para lidar com problemas no setor corporativo, representantes
do novo governo começaram em janeiro a conversar com
presidentes dos maiores grupos empresariais coreanos, os chaebols,
e firmaram um acordo em "cinco objetivos para a reforma
corporativa", incluindo aumentar a transparência
da administração, acabar com as práticas
de garantia das dívidas das filiais destes grupos,
reforçar suas condições financeiras,
selecionar certas linhas de negócios para cada um,
promover a cooperação entre eles e as pequenas
empresas, e, exigir que os principais acionistas e administradores
sejam responsáveis pela performance dos seus negócios.
Para legalizar o acordo, o governo revisou 10 leis em fevereiro,
incluindo aquelas relacionadas a auditorias de empresas, direitos
dos acionistas e comércio justo. Quando o novo governo
foi estabelecido em fevereiro, formulou um plano de promoção
da reestruturação dos setores corporativos e
financeiros que estabelecia recursos para a reestruturação
como uma maneira de assegurar que está fosse realizada.
O plano, que também vai proporcionar a emissão
de "real state trust" e "asset-backed securities"
aos mercados financeiros, está sendo implementado sem
maiores problemas.
Um esquema legal e sistemático para a reestruturação
foi estabelecido, bancos credores formaram um comitê
de tributação para acabar com o problema de
corporações excessivamente alavancadas. Assim,
os bancos decidiram fechar 55 empresas, incluindo 20 filiais
de 5 dos maiores chaebols. As companhias que fecharam foram
aquelas que apresentaram perdas nos últimos três
anos e foram julgadas como incapazes de pagar suas dívidas
mesmo com a aplicação de taxas de juros normais.
Para as companhias que agora apresentam problemas, mas que
foram vistas como viáveis, elas e seus bancos credores
negociarão os planos de reestruturação
que devem incluir negociação das dívidas
com o patrimônio.
Em julho, o governo e representantes das empresas concordaram
que os objetivos de fazer que as filiais dos chaebols parassem
de emitir garantias de pagamento da dívida e gradualmente
reduzissem suas taxas de endividamento deveriam fazer parte
de um acordo para a melhoria da estrutura financeira como
uma maneira de assegurar que os cinco objetivos fossem atingidos.
Nos seus esforços de reestruturação,
os cinco maiores chaebols estão negociando entre eles
os chamados cinco acordos, envolvendo negociação
na indústria de semicondutores, petroquímicos,
aeronaves, "rolling stock", geração
de energia e setores de refinaria de petróleo. O objetivo
básico é resolver o problema dos excessivos
e repetidos investimentos entre os chaebols para a consolidação
e especialização em indústrias específicas.
Nas conversas sobre o grande acordo, os cinco grupos propuseram
a reestruturação das operações
de seus negócios como uma maneira de estabelecer associações
em sete áreas empresariais que apresentavam excessiva
capacidade instalada. O governo, por outro lado, exigiu uma
drástica revisão na administração
dos chaebols para que o controle administrativo ficasse mais
claro. Assim, a partir disso, as conversas do grande acordo
ainda estão em um estágio de diminuir as diferenças
e buscar compromissos.
Enquanto a economia coreana está passando por uma drástica
reestruturação, a economia global permanece
na recessão e na incerteza. Primeiro, não há
indicação de que a economia japonesa se recupere
dos sete anos de recessão "Heisei", e que
os esforços da reforma financeira de Tóquio
levem a alguma coisa. O yen permanece flutuando enquanto há
pressão para sua depreciação. Enquanto
isso, o futuro do yuan chinês é outra incerteza
para as economias do sudeste asiático. Resumindo, a
crise no leste asiático não parece ir embora
tão cedo, e há sinais de que a recessão
econômica na Ásia está se espalhando para
outras partes do mundo, consequentemente provocando uma recessão
mundial.
Na Coréia, pela primeira vez na história de
seu moderno desenvolvimento econômico, a economia deverá
atingir um recorde negativo de crescimento de -6 ou -7% este
ano, enquanto espera-se que o desemprego atinja quase 8%.
Espera-se que a economia despenque até a metade de
1999, apesar da profunda reestruturação a que
está sendo submetida. Assim, há agora discussões
sobre a tirania do capital internacional na era da globalização,
mas o fato é que a economia coreana deve deixar de
lado suas práticas passadas de desenvolvimento e recriar
sua economia com padrões internacionais. A Coréia
deve também transformar sua economia num ambiente aberto
onde a livre competição é permitida.
Isto pode ser feito pela adoção políticas
de investimentos estrangeiros e a solicitação
de investimentos estrangeiros diretos.
Cooperação econômica regional no nordeste
da Ásia
Com tantas economias de rápido crescimento na Ásia
que sofreram a crise financeira e que foram punidas pelo FMI,
a necessidade de uma maior cooperação econômica
entre os países do nordeste asiático é
cada vez mais presente. Um bom exemplo de como a globalização
financeira está afundando a interdependência
mútua das economias nacionais é vista na crescente
relação entre o yen japonês, o yuan chinês
e o won coreano. Dado o processo de industrialização
dos últimos 30 anos, não há dúvida
de que os países do nordeste da Ásia podem mais
do que atuar como centro de produção mundial.
Se estes países podem reformar seus setores financeiros
e reforçar seus processos de ajuste político
para estabilizar suas respectivas taxas de câmbio e
de juros, enquanto promovem o comércio e os investimentos
na região, eles serão capazes de usar sua diversidade
para benefícios mútuos.
Em vista do fato de que o comércio entre a Coréia
e a China se expandiu em uma taxa média de 40% ao ano
desde a normalização das relações
diplomáticas em 1992, e com sistemas cooperativos regionais
como o da União Européia, NAFTA, Mercosul e
AFTA formados com base na homogeneidade cultural e proximidade
geográfica, os países do nordeste asiático
deveriam usar a atual crise financeira como uma oportunidade
de estabelecer novos sistemas cooperativos na região.
Estes países precisam estabelecer um sistema institucionalizado
para consultar as taxas de câmbio, taxas de juros e
câmbio, e também criar um sistema de advertência
para notificar os países sobre desenvolvimentos não
usuais nos indicadores financeiros. Os países também
precisam estabelecer o Fundo Monetário do leste asiático
para complementar o FMI e negociar mais efetivamente as emergências
econômicas regionais, como a recente crise externa.
Cinco países do nordeste asiático demonstraram
interesse em participar no "UNDP - sponsored, Tumen River
Area Development Program", incluindo a participação
quase certa da Coréia do Norte. Estes países
deveriam fazer deste programa um sucesso. O projeto oferece
uma valiosa oportunidade de começar o processo de estabelecimento
de uma cooperação econômica no nordeste
da Ásia.
Mesmo na Coréia do Norte, o único país
no leste asiático que fracassou em livrar-se do isolamento
da Guerra Fria, o nacionalismo da era de Kim Jong-il está
começando ficar para trás. O fato que a Coréia
do Norte adotou uma emenda constitucional que permite a propriedade
privada parcial pelos indivíduos, organizações
sociais e organizações cooperativas, é
de grande atenção. O norte deixou de lado seu
conceito de "self-reliant development" em favor
de uma política econômica pragmática.
Ele também substituiu sua noção de "self-reliant
national economy" por "economy for growth and prosperity
of the fatherland". Estas mudanças mostraram que
o nordeste asiático está finalmente se afastando
das consequências da Guerra Fria, pelo menos nos assuntos
econômicos.
A China está agora na posição ideal para
encorajar estas mudanças na Coréia do Norte
e empurrar o país para o estabelecimento de uma política
econômica mais pragmática, na qual a economia
de mercado chinesa e sua estratégia de abertura gradual
para zonas econômicas especiais, possam servir como
um bom modelo de experimentação econômica.
Apesar de todos os esforços econômicos da reestruturação
coreana, se a China desvalorizar seu yuan novamente, as exportações
coreanas vão parar. Mas se a Coréia e os outros
países do leste asiático completarem suas reestruturações
econômicas e voltarem a apresentar um crescimento econômico
positivo, isto vai contribuir grandemente para as expectativas
chinesas. Assim, a China deveria fazer o papel de líder
em ajudar os vizinhos a terminarem seus programas de reestruturação.
Com a reestruturação econômica em curso
na Coréia, há agora a possibilidade de uma nova
era de cooperação econômica entre Seul
e Beijing. Existe também alguns comentários
sobre a China adquirir o excesso de capacidade industrial
da Coréia no setor de indústria pesada e química.
As falências deixaram mais ou menos 20 trilhões
de won de estabelecimentos industriais desocupados. A China
deveria estudar a possibilidade de capitalizar os esforços
coreanos para a exportação desta estrutura como
uma maneira de avançar os planos chineses de industrializar
seu interior.
Através da reestruturação, a Coréia
pode renascer como uma economia eficiente que possa competir
em mercados internacionais. Uma vez que ela surja como uma
economia transparente e eficiente com uma democracia madura
e preparada para a nova era da informação, a
Coréia, assim como outros países do nordeste
asiático, serão capazes de preencher seus papéis
coletivos como centros de crescimento econômico mundial
no século 21.
* Artigo apresentado no V Forum Coréia-China para o
Futuro, realizado em Shangai em 17-18 de setembro de 1998,
sob o patrocínio da Fundação Coréia
e do Instituto Popular Chinês para Assuntos Internacionais.
Publicado em Korean Focus, Vol. 6, No. 5, Sept-Oct. 1998.
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