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Publicación Carta Asiática
Reformas Políticas e Econômicas na Coréia
Ahn Choong-yong

Tradução: Gilmar Masiero e Juliana Simonishi

Em apenas 30 anos, a Coréia do Sul se transformou de uma das mais pobres economias agrícolas do Leste Asiático na 11º maior economia do mundo. No relatório "The East Asian Miracle" de 1993, o Banco Mundial citou a Coréia como um exemplo de país desenvolvido que atingiu um rápido crescimento econômico e grande transformação industrial. O "comprimido" crescimento econômico coreano até a década de 80 foi proporcionado pela estratégia do governo de industrialização voltada às exportações e capitalizada nos recursos de mão-de-obra de alta qualidade, que a Coréia desfrutava durante o primeiro estágio do seu desenvolvimento econômico.

O sucesso da estratégia de crescimento rápido também pode ser atribuído ao caráter do seu povo, que lutava para tirar o país da pobreza, assim como aos empreendedores coreanos, que queriam expandir seus negócios com a ajuda dos regimes autoritários. Nos anos 90, entretanto, a tendência da globalização e a era da Organização Mundial do Comércio mudaram este cenário. A globalização exigia que a Coréia mudasse sua estratégia econômica nacional, transformasse seu estilo administrativo e introduzisse reformas, se quisesse manter o crescimento econômico. O fracasso coreano em adequar-se a essas novas exigências levou à situação extraordinária de ter que buscar ajuda no Fundo Monetário Internacional e ser colocado sob sua supervisão.

Em julho de 1997, o Leste Asiático foi atingido por uma crise financeira. A Coréia rapidamente tornou-se uma das vítimas, quando Seul foi colocada sob a supervisão do FMI em dezembro de 1997. Então o país se submeteu a uma mudança no governo que passou a ser liderado por Kim Dae-jung, cujos ideais básicos de governo podiam ser resumidos como "o desenvolvimento paralelo da democracia e da economia de mercado". Como escreveu o cientista político americano Francis Fukuyama, a promoção simultânea da democracia e da economia de mercado é um processo de estabelecimento de um sistema político e econômico para que um país ganhe maturidade.
Este processo na Coréia deveria ser interpretado como uma reforma estrutural dos sistemas políticos e econômicos de uma nação, e como uma estratégia para o desenvolvimento industrial visando se preparar para a era da informação e da inteligência no século 21. Especificamente, isto também deveria envolver a exclusão da antiga colisão coreana entre política e empresa, inspecionar a burocracia do setor bancário, excluir as irregularidades, corrupção e o risco moral que estavam presentes na economia e política do país por tanto tempo.

Primeira mudança de poder para a oposição
O estabelecimento do governo Kim Dae-jung merece um lugar especial na história política coreana, por representar a primeira mudança de poder para um partido da oposição. A transferência de poder para a oposição deveria ser reconhecida como um marco no desenvolvimento político nacional porque esta é uma evidência clara de que a responsabilidade governamental está se fixando na Coréia. O precedente foi retirado do poder, através de um processo democrático, de um partido que fracassou no governo e não atendeu às expectativas da população. Isto também propiciou uma oportunidade para os princípios do mercado de "responsabilidades e recompensas" fazerem parte da economia.
Até recentemente, o partido da administração de Kim mantinha somente uma posição minoritária na Assembléia Nacional, e a legislatura fracassou em atuar por algum tempo com partidos da oposição e da situação lutando pelo controle político. A legislatura fracassou em atuar na pilha de contas econômicas que eram necessárias para reformar a economia de acordo com os mandatos do FMI. O país agora enfrenta a terrível tarefa de se livrar do controle do FMI e de restaurar a confiança da economia coreana na comunidade estrangeira. Assim, agora mais do que nunca, é crucial que a legislatura trabalhe eficientemente.

Uma das mais importantes realizações do novo governo em lidar com os problemas econômicos da nação foi o acordo social entre governo, empresa e trabalhadores. As relações entre empresas e trabalhadores na Coréia têm sido litigiosas nos últimos anos devido às disputas trabalhistas e os incidentes violentos que começaram com a liberalização do sistema de contrato nos anos 80 promovendo os direitos dos trabalhadores. Nos primeiros anos do desenvolvimento econômico e político coreano, anterior à emergência deste sistema, a indústria coreana desfrutou do que poderia ser chamado de um ambiente de trabalho reprimido. Mas, na década passada, os salários dos trabalhadores subiram mais rápido do que os ganhos na produtividade industrial. A Coréia passou por um período de salários excessivamente altos. Agora, o FMI está demandando reformas visando melhorar a flexibilidade no mercado de trabalho. Isto significa que as dispensas temporárias farão parte da estrutura de empregos da Coréia para facilitar a reestruturação corporativa, enquanto conservam-se os direitos básicos dos trabalhadores.
Quando uma sociedade industrial continua a expandir economicamente por um período extenso, isto inevitavelmente leva a vários problemas, incluindo uma distribuição desigual de renda e conflitos entre os grupos de interesse. Em janeiro de 1998, antes do Presidente Kim assumir a posição, a transição governamental se uniu a uma comissão tripartite de representantes dos trabalhadores, de empresas e do governo, que obteve êxito ao estabelecer um acordo social para dividir as dificuldades na reestruturação corporativa. O verdadeiro significado destes três grupos para o acordo se refletiu na decisão coletiva de superar a atual crise financeira. O fato deles terem concordado em resolver conflitos entre as unidades econômicas e grupos de interesse de diferentes visões, através de um processo democrático envolvendo participação, diálogo e concessões, representa um notável avanço na história política coreana.

A Coréia deveria ser capaz de aplicar o princípio da responsabilidade para sua economia e estabelecer padrões de mercado para recompensa e punição - regra que recompensa administradores e firmas que façam bem e punem aqueles que fracassam, incluindo a sua demissão se permitido. Tais regras deveriam ajudar a superar o risco moral da burocracia e prevenir o governo de resgatar empresas falidas com impostos de renda na desculpa de que a falência deve ter um efeito inaceitável na economia.

Principais causas da Delegação do FMI
Há alguns problemas comuns na Coréia, Tailândia, Indonésia e outros países que estão sofrendo a crise financeira. O primeiro é que grandes quantidades de recursos estrangeiros que entraram nestes países em 1994 e 1995 resultaram em investimentos não-produtivos, contribuindo assim, com os problemas econômicos. Este capital estrangeiro, incluindo dinheiro de curto prazo, entrou em mercados emergentes no momento em que estes países estavam passando por um rápido crescimento. Em alguns países, estes recursos representavam de 40 a 50% de seus respectivos PNB.

Segundo, a rápida desvalorização do yen japonês e a competitividade dos produtos chineses baseados em baixos salários começaram a provocar a diminuição das exportações do sudeste asiático em 1996. Estes países, consequentemente, pagaram os déficits nas suas contas com a disponibilidade de capital estrangeiro. Terceiro, a relutância e a fragilidade dos setores financeiros nestes países tornou difícil para os seus governos controlarem efetivamente as rápidas entradas de capital, especialmente "hedge funds" e "hot money". Em quarto lugar, todos estes países empregaram políticas rígidas de câmbio, com suas moedas ligadas ao dólar americano, enquanto fracassavam em ajustar rapidamente o yen japonês.

O yen japonês, que alcançou uma alta de 79 yen por dólar, começou a cair em 1995, chegando a um nível de 130 yen por dólar. E, devido ao fato da Coréia e outros países asiáticos terem ligado suas moedas ao dólar, suas taxas de câmbio vis-à-vis o yen ganharam força. No fim, isto drasticamente diminuiu a competitividade dos preços dos produtos de exportação da Coréia e de outros países do leste asiático. O fluxo do desvalorizado yen japonês a taxas de juros extremamente baixas no sudeste asiático ajudaram a estabelecer o palco para a crise financeira na região. O yen japonês, com uma taxa de redesconto de 0,25 a 0,5% e a taxa de câmbio de aproximadamente 120 yen por dólar hoje, era de 79 yen por dólar em 1993.

No final dos anos 80, o Japão começou a expandir seus investimentos estrangeiros diretos em países como Malásia e Tailândia, proporcionando empréstimos baseados no yen a baixas taxas de juros. Assim, enquanto bancos do sudeste asiático estavam cobrando 16% de juros sobre seus empréstimos, eles estavam utilizando recursos baseados em yens emprestados dos bancos japoneses a taxas de juros inferiores a 5%. Esta situação levou a um grande fluxo de recursos japoneses no sudeste asiático, com a dívida externa da Tailândia subindo de 47 bilhões de dólares em 1993 para 77 bilhões em setembro de 1996. Este fluxo de capital baseado no yen criou problemas em muitos dos mercados imobiliários, empurrando os preços territoriais na Tailândia e na Malásia de 50 para 100% em apenas três ou quatro anos. Mas quando a economia regional começou a balançar em agosto de 1997, os preços imobiliários no sudeste asiático começaram a cair de 20 a 40%, contribuindo com o colapso dos preços das ações. Como o yen japonês continuou a declinar em valor, muitos países na Ásia depreciaram suas moedas, desestabilizando as taxas de câmbio regionais.

Enquanto isso, a China, com sua abundante força de trabalho e baixos salários, desvalorizou seu yuan em 35% no início de 1994, tornando-se assim, super competitiva em produtos de trabalho intensivo e em itens de tecnologia intermediária. A média do salário na China por hora é atualmente de 0,90 dólares - notavelmente abaixo da Indonésia, que é de 1,8 dólares, nas Filipinas de 1,3 dólares e na Tailândia de 3,0 dólares. Como resultado, a parcela da China no mercado de importação americano - o maior do mundo - subiu de 6% em 1987 para 26% em 1996. A China também atingiu uma grande parcela do mercado mundial de exportações, expandindo da indústria leve (têxteis e calçados) para produtos de indústrias pesadas e químicas. Eventualmente, as exportações de baixos salários da China levaram as economias do leste asiático à recessão, piorando seus déficits na balança de pagamentos externa.

Além desses fatores estruturais, a Coréia era incapaz de atender às demandas de seus credores estrangeiros por repagamento de empréstimos devido à escassez de reservas de moeda estrangeiras. Muitas instituições coreanas que realizavam empréstimos seguraram recursos estrangeiros na forma de empréstimos de curto prazo que eram usados para investimentos de longo prazo ou projetos financeiros de médio a longo prazos em países terceiros, com o objetivo de adquirir um lucro rápido através da diferença nas taxas de juros. Mais de 60% da dívida externa coreana em novembro de 1997 envolvia obrigações de curto prazo. Esta situação indicava que a Coréia havia fracassado em adotar medidas macroeconômicas necessárias para o controle efetivo ou alocação de grandes quantidades de capital estrangeiro entrando no mercado coreano. Em resumo, o atrasado setor financeiro coreano e a supervisão inadequada do governo ajudou a exacerbar a ineficiência dos problemas econômicos criados pelas instituições financeiras do país.

A seriedade da crise financeira que agora está presente na Coréia tornou-se clara quando a Standard & Poor's reduziu a taxa de crédito do país em 24 de outubro do ano passado. Mesmo quase depois de um ano de reestruturações, o crédito da Coréia nos mercados estrangeiros permanece um pouco acima do "junk bond status". No final de janeiro de 1998, o FMI calculou que a dívida externa coreana estava em 152 bilhões de dólares, excluindo 52 bilhões que as filiais das empresas coreanas emprestaram de bancos locais. Como resultado, o FMI exigiu que a Coréia reestruturasse sua economia para tratar da sua falta de liquidez estrangeira e assegurar o repagamento dos juros da sua dívida externa.

A reestruturação demandada pelo FMI incluía: 1) a completa abertura do mercado de capital doméstico, incluindo liberalização cambial assim como fusões e aquisições corporativas; 2) subir as taxas de juros e adotar políticas monetárias e orçamentárias austeras; 3) supervisionar instituições financeiras domésticas e corporações baseadas nos padrões internacionais de transparência; e 4) criar um mercado de trabalho mais flexível. Os fracassos de tantas instituições financeiras e corporações podem ser uma evidência do sério problema estrutural que se desenvolveu no curso do rápido crescimento econômico coreano. Mas deveria ser lembrado que as instituições bancárias financeiramente fracas e as corporações eram os principais problemas, mesmo antes do começo da atual crise financeira.

Pronta recuperação da crise de moeda estrangeira
O governo Kim Dae-jung começou a tentar resolver o problema da falta de liquidez estrangeira coreana mesmo antes que fosse formalmente estabelecida uma equipe econômica especial com autoridades das administrações atual e passada. Esta comissão rapidamente obteve recursos do FMI e de outras organizações internacionais como o Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento, obteve êxito ao negociar um "rollover" da dívida de curto prazo das instituições financeiras domésticas, e abriu caminho para a emissão "currency-denominated public bonds" garantidas pelo governo. As reservas estrangeiras coreanas, que chegaram a uma baixa de 3,9 bilhões de dólares no dia das eleições presidenciais, em 18 de dezembro de 1997, alcançaram uma alta de 39,3 bilhões de dólares a partir do final de julho de 1998 ( as reservas estrangeiras atingiram 44 bilhões de dólares a partir de 15 de outubro de 1998). A parcela da dívida externa de curto prazo da dívida total também aumentou muito, ajudando assim, a estabilizar o mercado estrangeiro coreano em um curto período. Como resultado, os juros do país e as taxas de câmbio, que pareciam não ter outra saída que não serem aumentadas, começaram a se estabilizar e baixar.

O governo também liberalizou o ambiente de investimentos para investidores internacionais, além de arrumar as provisões legais relacionadas a investimentos estrangeiros para estar em acordo com os padrões internacionais. As reformas implementadas pelo governo para encorajar a entrada de capital estrangeiro incluíam: 1) a remoção dos limites diários nas flutuações das taxas de câmbio; 2) a proibição de novas garantias de dívidas entre as filiais dos conglomerados coreanos; 3) a abolição das instituições financeiras que garantiam as dívidas umas das outras; 4) liberalização das linhas de negócios nas quais os estrangeiros poderiam investir; 5) a aprovação de fusões e aquisições corporativas; 6) liberalização das aquisições estrangeiras de bens imóveis coreanos. Ao mesmo tempo, o governo concluiu um acordo de investimento entre a Coréia e os Estados Unidos, forçou o Banco de Importações e Exportações Americano a aumentar o crédito comercial para empresas coreanas, encorajou investimentos dos Estados Unidos, e se esforçou para atrair capital estrangeiro.

No acordo formal do FMI de 19 de dezembro de 1997, a Coréia começou a desenvolver programas para reestruturar sua economia e liberalizar seu mercado de capital, incluindo a aceleração de certos compromissos. O governo conseguiu recuperar a confiança da comunidade internacional efetuando novos sistemas de acordo com os padrões internacionais. Estas ações incluíam: 1) supervisionar a administração do Banco Central Coreano e do Banco de Seul; 2) abolir controles nas taxas de juros; 3) reforçar as leis sobre o fechamento, perdas de alocação e redução no lucro das instituições financeiras falidas; 4) permitir que os estrangeiros escolhessem os diretores do banco; 5) abrir completamente os tipos de instrumentos financeiros emitidos no mercado financeiro de curto prazo; e 6) abolir os tetos de investimentos em mercados de ações.

Extensiva reforma estrutural
Durante os primeiros seis meses no poder, o governo não somente começou a negociar a crise estrangeira, mas também completou o trabalho de restruturação das corporações, do mercado financeiro, do governo e de setores sindicais. Para transformar a burocracia em um governo "pequeno mas eficiente", a administração, em fevereiro, providenciou uma reforma na organização governamental nacional, e está preparando uma reforma para a organização governamental local para a segunda metade do ano. Também começou a regularizar as empresas públicas e as organizações governamentais. Para isso, o governo vai privatizar 5 corporações públicas e 33 companhias já saneadas pelo governo antes de privatizar 6 outras corporações públicas e 28 companhias do governo.

Com relação ao guarda-chuva das organizações governamentais, a orientação geral do governo é para fusões, fechamentos e privatizações, além de adotar sistemas administrativos baseados na responsabilidade, sob os quais suas operações e orçamentos devem ser justificados. O governo também está pretendendo reformar os sistemas fiscais e tributário para que seu orçamento possa ser mais orientado para os resultados enquanto promove justiça e transparência. Através da reforma do sistema regulatório, o governo pretende extinguir mais de 50% das regulamentações existentes até o final do ano. E como parte destes esforços para lidar com o problema de empresas públicas falidas, o governo diminuiu os salários e os programas de pagamento de aposentadorias para oficiais e empregados destas organizações.

Na área financeira, o governo investiu 3 trilhões de won no Banco Central da Coréia e no Banco de Seul em janeiro, depois desses bancos terem sido punidos por diminuir em seu capital, e agora está se preparando para vender os bancos para quaisquer compradores, incluindo investidores internacionais. Em junho, o governo anunciou um plano de reestruturação bancária em cinco dos doze bancos domésticos que faliram devido ao "capital adequacy ratio" de 8% a partir do final de 1997, que seria ajustado por aquisição ou suposição; isto é, eles seriam fechados e tomados por outros bancos. Para os outros sete bancos que faliram devido às exigências do BIS mas que foram permitidos a manter-se abertos, o governo exigiu uma boa performance empresarial da supervisão administrativa, diminuindo suas atividades, mão-de-obra e aumentando seu capital.
Para os doze bancos coreanos cujos "capital adequacy ratios" excederam os 8% do BIS, o governo realizará uma supervisão completa de suas condições e cobrará melhoras quando necessário. A versão coreana do "big bang" no setor financeiro provavelmente levará a um grande número de fusões bancárias, como aquelas recentemente anunciadas entre o Banco Comercial da Coréia e o Banco Hanil, o Banco Kookmin e o Banco Coreano de Crédito de Longo Prazo, o Banco Boram e o Banco Hana. Espera-se que este tipo de associações continue, para que a reestruturação no setor bancário se torne clara até o final do ano.

Para instituições financeiras não bancárias, o governo planeja concluir suas reformas no final de 1998, transferindo a maior parte da responsabilidade para os principais acionistas de cada instituição. Como parte deste plano, o governo em agosto fechou quatro companhias de seguro e exigiu que outras sete apresentassem medidas extensivas de ajuda para assegurar sua sobrevivência. O governo também implementou um plano de reforma para o setor financeiro que exigirá o uso de aproximadamente 50 trilhões de won em recursos públicos para ajudar a reestruturação das instituições financeiras coreanas. Isto, além dos 14 trilhões de won que o governo já decidiu ajudar. Dos 50 trilhões de won, 25 trilhões serão usados para resolver maus empréstimos, 16 trilhões para recapitalizar instituições financeiras, e 9 trilhões para pagamento de depositantes. O governo reformou o sistema fiscal financeiro pela delegação de mais autoridade ao Banco da Coréia e integrando as organizações fiscais do governo.

Para lidar com problemas no setor corporativo, representantes do novo governo começaram em janeiro a conversar com presidentes dos maiores grupos empresariais coreanos, os chaebols, e firmaram um acordo em "cinco objetivos para a reforma corporativa", incluindo aumentar a transparência da administração, acabar com as práticas de garantia das dívidas das filiais destes grupos, reforçar suas condições financeiras, selecionar certas linhas de negócios para cada um, promover a cooperação entre eles e as pequenas empresas, e, exigir que os principais acionistas e administradores sejam responsáveis pela performance dos seus negócios.

Para legalizar o acordo, o governo revisou 10 leis em fevereiro, incluindo aquelas relacionadas a auditorias de empresas, direitos dos acionistas e comércio justo. Quando o novo governo foi estabelecido em fevereiro, formulou um plano de promoção da reestruturação dos setores corporativos e financeiros que estabelecia recursos para a reestruturação como uma maneira de assegurar que está fosse realizada. O plano, que também vai proporcionar a emissão de "real state trust" e "asset-backed securities" aos mercados financeiros, está sendo implementado sem maiores problemas.

Um esquema legal e sistemático para a reestruturação foi estabelecido, bancos credores formaram um comitê de tributação para acabar com o problema de corporações excessivamente alavancadas. Assim, os bancos decidiram fechar 55 empresas, incluindo 20 filiais de 5 dos maiores chaebols. As companhias que fecharam foram aquelas que apresentaram perdas nos últimos três anos e foram julgadas como incapazes de pagar suas dívidas mesmo com a aplicação de taxas de juros normais. Para as companhias que agora apresentam problemas, mas que foram vistas como viáveis, elas e seus bancos credores negociarão os planos de reestruturação que devem incluir negociação das dívidas com o patrimônio.

Em julho, o governo e representantes das empresas concordaram que os objetivos de fazer que as filiais dos chaebols parassem de emitir garantias de pagamento da dívida e gradualmente reduzissem suas taxas de endividamento deveriam fazer parte de um acordo para a melhoria da estrutura financeira como uma maneira de assegurar que os cinco objetivos fossem atingidos. Nos seus esforços de reestruturação, os cinco maiores chaebols estão negociando entre eles os chamados cinco acordos, envolvendo negociação na indústria de semicondutores, petroquímicos, aeronaves, "rolling stock", geração de energia e setores de refinaria de petróleo. O objetivo básico é resolver o problema dos excessivos e repetidos investimentos entre os chaebols para a consolidação e especialização em indústrias específicas.

Nas conversas sobre o grande acordo, os cinco grupos propuseram a reestruturação das operações de seus negócios como uma maneira de estabelecer associações em sete áreas empresariais que apresentavam excessiva capacidade instalada. O governo, por outro lado, exigiu uma drástica revisão na administração dos chaebols para que o controle administrativo ficasse mais claro. Assim, a partir disso, as conversas do grande acordo ainda estão em um estágio de diminuir as diferenças e buscar compromissos.

Enquanto a economia coreana está passando por uma drástica reestruturação, a economia global permanece na recessão e na incerteza. Primeiro, não há indicação de que a economia japonesa se recupere dos sete anos de recessão "Heisei", e que os esforços da reforma financeira de Tóquio levem a alguma coisa. O yen permanece flutuando enquanto há pressão para sua depreciação. Enquanto isso, o futuro do yuan chinês é outra incerteza para as economias do sudeste asiático. Resumindo, a crise no leste asiático não parece ir embora tão cedo, e há sinais de que a recessão econômica na Ásia está se espalhando para outras partes do mundo, consequentemente provocando uma recessão mundial.

Na Coréia, pela primeira vez na história de seu moderno desenvolvimento econômico, a economia deverá atingir um recorde negativo de crescimento de -6 ou -7% este ano, enquanto espera-se que o desemprego atinja quase 8%. Espera-se que a economia despenque até a metade de 1999, apesar da profunda reestruturação a que está sendo submetida. Assim, há agora discussões sobre a tirania do capital internacional na era da globalização, mas o fato é que a economia coreana deve deixar de lado suas práticas passadas de desenvolvimento e recriar sua economia com padrões internacionais. A Coréia deve também transformar sua economia num ambiente aberto onde a livre competição é permitida. Isto pode ser feito pela adoção políticas de investimentos estrangeiros e a solicitação de investimentos estrangeiros diretos.

Cooperação econômica regional no nordeste da Ásia
Com tantas economias de rápido crescimento na Ásia que sofreram a crise financeira e que foram punidas pelo FMI, a necessidade de uma maior cooperação econômica entre os países do nordeste asiático é cada vez mais presente. Um bom exemplo de como a globalização financeira está afundando a interdependência mútua das economias nacionais é vista na crescente relação entre o yen japonês, o yuan chinês e o won coreano. Dado o processo de industrialização dos últimos 30 anos, não há dúvida de que os países do nordeste da Ásia podem mais do que atuar como centro de produção mundial. Se estes países podem reformar seus setores financeiros e reforçar seus processos de ajuste político para estabilizar suas respectivas taxas de câmbio e de juros, enquanto promovem o comércio e os investimentos na região, eles serão capazes de usar sua diversidade para benefícios mútuos.

Em vista do fato de que o comércio entre a Coréia e a China se expandiu em uma taxa média de 40% ao ano desde a normalização das relações diplomáticas em 1992, e com sistemas cooperativos regionais como o da União Européia, NAFTA, Mercosul e AFTA formados com base na homogeneidade cultural e proximidade geográfica, os países do nordeste asiático deveriam usar a atual crise financeira como uma oportunidade de estabelecer novos sistemas cooperativos na região. Estes países precisam estabelecer um sistema institucionalizado para consultar as taxas de câmbio, taxas de juros e câmbio, e também criar um sistema de advertência para notificar os países sobre desenvolvimentos não usuais nos indicadores financeiros. Os países também precisam estabelecer o Fundo Monetário do leste asiático para complementar o FMI e negociar mais efetivamente as emergências econômicas regionais, como a recente crise externa.
Cinco países do nordeste asiático demonstraram interesse em participar no "UNDP - sponsored, Tumen River Area Development Program", incluindo a participação quase certa da Coréia do Norte. Estes países deveriam fazer deste programa um sucesso. O projeto oferece uma valiosa oportunidade de começar o processo de estabelecimento de uma cooperação econômica no nordeste da Ásia.

Mesmo na Coréia do Norte, o único país no leste asiático que fracassou em livrar-se do isolamento da Guerra Fria, o nacionalismo da era de Kim Jong-il está começando ficar para trás. O fato que a Coréia do Norte adotou uma emenda constitucional que permite a propriedade privada parcial pelos indivíduos, organizações sociais e organizações cooperativas, é de grande atenção. O norte deixou de lado seu conceito de "self-reliant development" em favor de uma política econômica pragmática. Ele também substituiu sua noção de "self-reliant national economy" por "economy for growth and prosperity of the fatherland". Estas mudanças mostraram que o nordeste asiático está finalmente se afastando das consequências da Guerra Fria, pelo menos nos assuntos econômicos.

A China está agora na posição ideal para encorajar estas mudanças na Coréia do Norte e empurrar o país para o estabelecimento de uma política econômica mais pragmática, na qual a economia de mercado chinesa e sua estratégia de abertura gradual para zonas econômicas especiais, possam servir como um bom modelo de experimentação econômica.
Apesar de todos os esforços econômicos da reestruturação coreana, se a China desvalorizar seu yuan novamente, as exportações coreanas vão parar. Mas se a Coréia e os outros países do leste asiático completarem suas reestruturações econômicas e voltarem a apresentar um crescimento econômico positivo, isto vai contribuir grandemente para as expectativas chinesas. Assim, a China deveria fazer o papel de líder em ajudar os vizinhos a terminarem seus programas de reestruturação.

Com a reestruturação econômica em curso na Coréia, há agora a possibilidade de uma nova era de cooperação econômica entre Seul e Beijing. Existe também alguns comentários sobre a China adquirir o excesso de capacidade industrial da Coréia no setor de indústria pesada e química. As falências deixaram mais ou menos 20 trilhões de won de estabelecimentos industriais desocupados. A China deveria estudar a possibilidade de capitalizar os esforços coreanos para a exportação desta estrutura como uma maneira de avançar os planos chineses de industrializar seu interior.
Através da reestruturação, a Coréia pode renascer como uma economia eficiente que possa competir em mercados internacionais. Uma vez que ela surja como uma economia transparente e eficiente com uma democracia madura e preparada para a nova era da informação, a Coréia, assim como outros países do nordeste asiático, serão capazes de preencher seus papéis coletivos como centros de crescimento econômico mundial no século 21.

* Artigo apresentado no V Forum Coréia-China para o Futuro, realizado em Shangai em 17-18 de setembro de 1998, sob o patrocínio da Fundação Coréia e do Instituto Popular Chinês para Assuntos Internacionais.
Publicado em Korean Focus, Vol. 6, No. 5, Sept-Oct. 1998.

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